Em 2013, apenas cerca de 7% das transacções se realizaram com empresas ou agentes da economia real, enquanto 93% se fizeram entre instituições financeiras, chegando-se ao ponto de os chamados produtos “derivados” representarem actualmente dez vezes a totalidade do PIB mundial.
A informação é dada por Manuel Maria Carrilho, a partir de um livro de Thomas Piketty, ‘O capital no século XXI’, cuja edição americana acaba de sair, entusiasticamente elogiada por Paul Krugman num artigo do último número do ‘The New York Review of Books’.
Já se sabe, pelos relatórios internacionais e do Banco de Portugal, que a dívida pública portuguesa tem subido consistentemente com as politicas austeritárias do actual Governo, passando dos cerca de 107% do PIB do tempo de Sócrates (que não era nenhum menino do coro) para os 129% medidos no final de 2013, e que deverão ultrapassar os 130% este ano. Como adianta Carrilho, “tiraram-se poucas lições do quase colapso de 2008 e a finança global continua à margem de qualquer norma de segurança. 5 anos passados, cerca de metade da actividade da finança mundial continua fora de qualquer regulação, o ‘shadow banking’ continua a prosperar, os ‘hedge funds’ gerem cerca de 2 biliões de dólares, bem mais do que antes da crise de 2008, e isto sem ter em conta tudo o que anda pelos paraísos fiscais.
Entretanto, os bancos centrais, ao multiplicarem a liquidez disponível com permanentes injecções de dinheiro – de 2008 até hoje, os bancos centrais do G7 injectaram cerca de dez biliões de dólares no sistema financeiro mundial -, terão ajudado bem mais a especulação do que estimulado a economia real”. Daí o BCE ter dúvidas em continuar a dar dinheiro directamente aos Bancos europeus, que vivendo comodamente de comissões, podem dedicar-se apenas a isso e à especulação, esquecendo a sua função de financiamento da economia real.