“Temos uma paróquia – com 30 mil católicos – que tem uma população superior à de muitas dioceses da Índia, que não passam dos 15 mil”, afirma o padre Joaquim Loiola Pereira, dando os exemplos das paróquias de Navelim ou Vasco da Gama.
A comunidade católica representa 27% da população de Goa, outrora jóia do império português a Oriente, onde os hindus são cerca de dois terços (65%) e os muçulmanos 8%, de acordo com o sacerdote.
“Fomos evangelizados por missionários que vieram de ou através de Portugal há cinco séculos, portanto, é uma comunidade muito assentada, muito estabelecida e muito praticante e que, portanto, não é nova, como em algumas áreas missionárias na Índia”, descreve o padre, nascido em Goa há 63 anos.
Segundo Joaquim Loiola Pereira, nos dias que correm, tem-se verificado “um êxodo de goeses”, sobretudo católicos, que partem em busca de melhores oportunidades de emprego. “Estamos agora a experimentar um certo declínio nos números, mas as igrejas continuam cheias”, realça, em entrevista à agência Lusa.
Apesar de se encherem na hora da liturgia, grande parte das igrejas de Goa está, na maior parte do tempo, de portas fechadas e Joaquim Loiola Pereira acaba por confirmar a teoria ouvida na rua: o receio de novas vagas de furtos.
“Já tem havido roubos de arte sacra (…), portanto, não queremos correr o risco”, sublinha, considerando que “hoje é ainda mais perigoso deixar as igrejas abertas”.
Apesar de uma relativa acalmia nos últimos tempos, o padre recorda que Goa assistiu, há três ou quatro anos, a “uma série de roubos em igrejas, mas também a actos de vandalismo em templos hindus”.
Apesar de os diversos credos coexistirem pacificamente em Goa, verificando-se, “no intercâmbio social, uma simbiose bastante saudável”, por vezes, há “atritos” gerados no xadrez da política.
“Há uma grande atmosfera de convivência e de harmonia inter-religiosa” – com hindus nas festividades de Natal e católicos nas festas de Ganesh.
Essa harmonia está, contudo, a ser “um pouco minada pelos políticos”, observa o sacerdote, falando numa tendência que se tem verificado na última década.
“Hoje há partidos que gostam de jogar a carta do colonialismo e há sempre gente com um certo ‘bad blood’ (sangue ruim) que costuma criar condições para atritos entre as duas comunidades”, ainda que, regra geral, estes se cinjam a episódios “passageiros”.
Os casamentos mistos também são uma realidade em Goa. “Não há muitos, mas há. A igreja não recomenda, mas sempre aceitou”, frisa.
De acordo com o sacerdote também há quem se queira converter: “Há pessoas que vêm cá pedir baptismo, mas que só são aceites depois de um escrutínio muito sério e detalhado porque precisamos de ver a motivação. Há casos em que querem ser baptizados porque se vão casar com uma pessoa católica”.
Em Goa ainda se celebra missa em português, mas naturalmente não tanto como outrora, “porque as pessoas vão deixando de saber a língua”, justifica Joaquim Loiola Pereira, sublinhando que a oferta contempla o concani (língua do ministério da Igreja) e o inglês.
“Acho que população de Goa que fala ou sabe português nunca foi além dos 3%”, diz.
Em Goa, onde anualmente se celebram centenas de casamentos e baptizados, há também “muitíssimas” crianças a frequentar a catequese.
“A catequese na arquidiocese de Goa, modéstia à parte, é uma actividade muito bem organizada e há muitos bispos do resto da Índia que querem saber o segredo”, conta o sacerdote, orgulhoso por poder contar, ao serviço dessa missão, tanto nas escolas como nas paróquias, com “um exército de catequistas”.
Lusa/SOL