Barroso atribui-se o mérito de voltar a pôr nos carris uma região que andou a viver acima das suas possibilidades. Mas nisto ele enganou-se clamorosamente. O mundo ocidental, baseado nos grandes grupos financeiros, continua a viver acima das suas possibilidades. E cada vez mais à custa dos contribuintes, das classes médias e dos mais desfavorecidos.
Vou só recordar, a propósito, uns dados adiantados no último artigo de Manuel Maria Carrilho no DN, e retirados do livro ‘O capital no século XXI’, de Thomas Piketty, elogiadíssimo no New York Revew of the Books:
«A finança global continua à margem de qualquer norma de segurança. Cinco anos passados, cerca de metade da actividade da finança mundial continua fora de qualquer regulação, o shadow banking continua a prosperar, os hedge funds gerem cerca de 2 biliões de dólares, bem mais do que antes de a crise de 2008, e isto sem ter em conta tudo o que anda pelos paraísos fiscais.
Entretanto, os bancos centrais, ao multiplicarem a liquidez disponível com permanentes injecções de dinheiro – de 2008 até hoje, os bancos centrais do G7 injectaram cerca de dez biliões de dólares no sistema financeiro mundial -, terão ajudado bem mais a especulação do que estimulado a economia real.
Em 2013, apenas cerca de 7% das transacções se realizaram com empresas ou agentes da economia real, enquanto 93% se fizeram entre instituições financeiras, chegando-se a ponto de os chamados produtos “derivados” representarem actualmente dez vezes a totalidade do PIB mundial.
No longo prazo, os rendimentos do capital são largamente superiores não só aos do trabalho, mas também aos do próprio crescimento económico».
Por isso o BCE não quer pôr nas mãos da Banca mais dinheiro, que não é canalizado para a Economia. Os Bancos esqueceream o seu papel de financiamento da economia, para se dedicarem a cobrar comissões e a especular em produtos por eles lançados.
Alem disso, a incompetência da Comissão de Barroso vê-se noutros pontos, que não são detalhes: depois da austeridade intensa de 2 anos, abençoada por Bruxelas, e segundo os últimos dados de instituições como o Banco de Portugal, a dívida pública atingiu em Portugal 129% do PIB (eram 107% no tempo de S´ºocrates) em 2013, e a projecção para o ano em curso ultrapassa os 130%. Seja qual for a saída do programa de resgate, Portugal continua a endividar-se, com estes ou outros credores.