Numa síntese que também espelha o que se viveu há 40 anos, alguém definiu o SAAL como uma experiência onde os arquitectos faziam os projectos com a participação das populações, os moradores construíam as casas e o Estado custeava os materiais.
O urbanismo e o pensar das cidades foi um dos traços destes 40 anos, no que ao sector da construção e do imobiliário diz respeito, tendo como pano de fundo a ideia de cidade como o espaço mais nobre para o exercício da cidadania, só possível se o património construído para satisfação das necessidades das populações for adequado às necessidades dessa mesma população.
É bom não esquecer que, em Portugal, construiu-se mais nos últimos vinte anos do século XX do que em todos os séculos que antecedem e integram a História do nosso país. Isso para tentar recuperar atrasos de algumas décadas relativamente à Europa, que se reconstruiu após a II Guerra Mundial, nomeadamente no que respeita a infra-estruturas fundamentais para a qualidade de vida.
Refiro-me, principalmente no que respeita a zonas urbanas, às redes de abastecimento de água potável, ao saneamento básico e, mais no caso das zonas rurais, à chegada da electricidade. Nestes 40 anos que estamos a celebrar, substituímos milhares de arcas salgadeiras, em madeira, onde se guardava a carne em sal, por arcas frigoríficas.
Não tenho dados sobre esta realidade, mas penso que ter-se-ão vendido mais arcas frigoríficas nas aldeias e zonas rurais de Portugal do que nas cidades, onde o velho frigorífico bastava para as necessidades das populações.
Num outro plano – e para não me furtar a contribuir para esta reflexão generalizada sobre estes 40 anos – terei de reconhecer que foi já depois do 25 de Abril de 1974 que se construíram autênticas aldeias clandestinas de segundas habitações, tendo no entanto também sido neste período que se erradicaram os principais bairros de lata (os mais tarde denominados espaços de alvenarias abarracadas, nomeadamente em Lisboa). Eram bairros de habitação degradada e degradante, nascidos nos anos 50 do século passado com o êxodo dos campos para as cidades.
Olhar para estes 40 anos que estamos a celebrar, pelo ângulo do sector da Construção e do Imobiliário, é um exercício que saúdo por ser um dos aspectos onde é mais evidente a ideia – justíssima – de que valeu a pena, apesar dos eventuais erros ou exageros cometidos.
*Presidente da APEMIP, assina esta coluna semanalmente