Mas esse era um caminho inevitável para uma sociedade que se habituara a viver de empréstimos e do crédito fácil – e, em particular, para um aparelho de Estado que vinha acumulando anos e anos a gastar bem mais do que tinha e do que podia.
Há três anos, relembre-se, o défice português estava nos 9,1% do PIB, o que significava um gasto excessivo anual de 16.175 milhões de euros – ou, traduzindo por miúdos, um aumento da dívida de 44,4 milhões de euros por dia. Passados três anos, Portugal baixou o défice para 4,9% do PIB e 8.121 milhões de euros. Quase metade do que era – e, ainda assim, continua a fazer crescer a sua dívida em cerca de 22 milhões de euros todos os dias…
O reverso deste processo doloroso de ajustamento e empobrecimento foi o facto de as incontáveis falências e o histórico desemprego terem servido, em parte, para o país regenerar a sua obsoleta e tradicional estrutura produtiva: desapareceram milhares de restaurantes, chafaricas de construção civil, cabeleireiros, oficinas rudimentares – que praticavam uma economia de subsistência, com produtos e serviços de baixa qualidade e uma mão-de-obra desqualificada, sem mercado e sem futuro.
Por outro lado, o país habituou-se nestes três anos a gastar menos, a viver com menos, a endividar-se menos – não só o 'monstro' do Estado, mas também muitas empresas e muitas famílias cronicamente endividadas e a própria banca que se viciara a viver dos financiamentos do exterior.
Esperemos que esta cura forçada tenha alterado verdadeiramente os hábitos despesistas tão enraizados em todos os sectores da sociedade. E que não se registe agora uma recaída aos primeiros ventos eleitoralistas – levando o défice público e a dívida a voltarem a crescer já a partir de 2015.
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