Portugal testa gás polémico

A procura por gás de xisto está a avançar a passos largos. No centro do país, há petrolíferas no terreno a iniciar os trabalhos de prospecção. A Galp Energia e a BP estão interessadas.

O interesse na exploração de gás de xisto está a avançar em Portugal. Há várias empresas energéticas a estudar o potencial do chamado shale gas, tendo sido já concedidas licenças para prospecção. Esta matéria-prima tem provocado euforia um pouco por todo o mundo, por ser mais barata e menos poluente do que outros combustíveis fósseis. Mas a extracção está envolta em polémica, já que pode implicar graves riscos ambientais, sobretudo a contaminação do solo.

Os EUA e a China têm as maiores reservas mundiais de gás de xisto e estão a apostar forte nesta fonte de energia, como forma de aumentar a autonomia energética e diminuir a dependência do petróleo. Este gás é obtido através da fracturação de rochas a grande profundidade, uma técnica conhecida como fracking.

Portugal poderá caminhar na mesma direcção, tendo em conta que é rico em xisto. A Galp Energia é uma das petrolíferas interessadas. Como explicou fonte oficial da empresa, «a Galp Energia está a estudar o potencial do shale gas em Portugal».

Segundo o grupo, há «indicações da presença de condições geológicas que poderão ter permitido a formação de jazidas deste tipo de gás no nosso país», embora os dados sejam «ainda escassos para que seja possível avaliar a existência deste tipo de gás em quantidades comerciais».

A BP também não quer perder o comboio. Apesar de ainda não estar no terreno a realizar prospecções, «tem vindo a acompanhar a evolução dos mercados, e a cada momento avaliará a sua participação em prospecções nos territórios onde o negócio possa ser sustentável». Pelo contrário, a Repsol não tem licenças nem planos para esta actividade no país.

Bombarral, Cadaval e Alenquer são ricos em xisto

O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), a instituição pública com competência nesta área, tem vindo a fazer estudos de avaliação do potencial destes hidrocarbonetos. O principal objectivo é «definir e identificar as unidades e formações geológicas das bacias portuguesas com maior potencial». As análises preliminares «indicam a sua existência nas unidades de idade mesozóica da Bacia Lusitaniana, na região centro de Portugal», explicou ao SOL fonte do organismo.

 É nos concelhos do Bombarral, Cadaval e Alenquer que existem mais indícios de potencial. «Nesta região existem actualmente algumas áreas concessionadas a empresas, que se encontram a iniciar os trabalhos de prospecção dirigida», adianta a mesma fonte.

As Bacias do Algarve e do Baixo Alentejo também têm potencial. Porém, são zonas protegidas ambientalmente. A exploração deste recurso «implica complexos processos operacionais e a utilização de tecnologia recente, dada a profundidade e as condições em que estes hidrocarbonetos se encontram», sublinha o LNEG.

 

Riscos para a saúde

Os riscos ambientais da extracção de xisto têm gerado controvérsia, principalmente nos EUA. Neste país, responsável por 68% da produção do shale gas, não há regras ambientais tão rígidas como na Europa. Os ambientalistas têm apontado o dedo às alterações na paisagem, aos riscos ambientais e aos perigos para a saúde dos consumidores. A principal queixa é a contaminação dos solos e da água com o fracking. Esta técnica implica a injecção de água a alta pressão, com químicos, para fracturar as rochas e libertar o gás.

Em Portugal e na Europa, o desenvolvimento do gás de xisto «tem outras limitações que tornam os projectos de exploração mais complexos do que, por exemplo, nos Estados Unidos. Estas limitações são de natureza ambiental, mas também do regime jurídico da propriedade dos recursos naturais», sublinhou a Galp.

Na Europa, o LNEG indica que existe uma recomendação sobre «princípios mínimos para a exploração e a produção de hidrocarbonetos mediante fracturação hidráulica maciça».

Apesar de toda a polémica, fala-se já na possível exportação deste hidrocarboneto dos EUA para a Europa, o que levaria a uma descida dos preços energéticos. Nos Estados Unidos já houve uma descida do preço do gás em cerca de 30% e foram criados 600 mil empregos nesta indústria. Segundo um relatório da BP, o shale gas deverá representar 46% do crescimento da procura de gás até 2035, sendo responsável por 21% do gás mundial.