Paulo Laureano e a ‘sua’ Vidigueira continuam a surpreender-nos, agora com o lançamento do Selectio Tinta Grossa 2011 e do Premium Vinhas Velhas (branco 2013 e tinto 2012). Por um lado, o esforço para salvar uma casta, a Tinta Grossa, por outro o reposicionamento e nova filosofia para a marca Premium.
No que se refere à Tinta Grossa, uma casta que no início deste século estava praticamente desaparecida dos vinhos da região portuguesa, e que deixou de ser plantada ou replantada, fizemos uma prova vertical das colheitas que estão no mercado sob a marca Selectio (2006, 2009, 2010 e a actual, a de 2011), que nos serviu para apreciarmos o enorme valor desta casta, tão difícil e de espírito rebelde nas vinhas. Recorde-se que o vinho a partir da Tinta Grossa foi durante muitos anos feito em talhas.
Foi aqui que comprovámos as suas características exóticas de aromas, onde pontuam as notas de madeira e frutos do bosque, a frescura e os taninos elegantes, além da equilibrada acidez que promete um bom envelhecimento. De todas, gostei mais da colheita de 2009, mas a de 2011 (a ser agora lançada) provou muito bem e foi muito agradável encontrar aquela mineralidade que lhe é dada pelo solo xistoso.
Passando para a marca Premium, Paulo Laureano quer reposicioná-la. Porquê? Porque é uma gama para a qual, não sendo barata nem cara, é difícil atrair o consumidor. Assim, optou-se por fazer um upgrade e anunciou-se que na sua origem vão estar somente uvas de vinhas velhas, o que desde logo aumentará a concentração dos vinhos. O Premium branco mostrou muita mineralidade e frescura, coisa rara no Alentejo, e apresentou-se como um vinho bastante gastronómico. O Premium tinto, que passou por uma mescla de barricas novas e velhas para a madeira não ficar muito intensa, revelou estrutura com a acidez a dar-lhe corpo, estando apto a desafiar pratos fortes. Mostrou também muita frescura.
O trabalho feito com estas duas marcas mostra a adaptação de Paulo Laureano aos mercados, ao mesmo tempo que luta pela fama das castas nacionais e as quer proteger, continuando a dar ao Alentejo a primazia entre as escolhas dos portugueses.
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