A crença das ‘Beliebers’ portuguesas

Pronunciar o nome de Justin Bieber é o suficiente para deixar Jéssica Nunes e Mariana Sousa com as pulsações aceleradas. “Nós gostamos dele porque fez com que nós nunca desistíssemos dos nossos sonhos e lutássemos por eles”, explica Jéssica, de 14 anos, com uma voz emocionada, enquanto troca olhares e sorrisos cúmplices com a amiga…

A crença das ‘Beliebers’ portuguesas

Mariana Sousa, Jéssica Nunes e Jéssica Lobo são típicas 'Beliebers', nome por que gostam de ser conhecidas as maiores fãs do cantor Justin Bieber. “Ser uma Belieber é gostar mais do que uma fã. É ser obcecada, é passar o tempo todo a pensar nele, é querer estar sempre a ouvir músicas dele, querer estar com ele”, explica Jéssica Lobo, de 13 anos. “Ser uma Belieber é tão bom… Libertamos a energia positiva que temos cá dentro”, acrescenta Jéssica Nunes.

Um dos momentos altos desta 'paixão' foi vivido há um ano, a 11 de Março de 2013, quando Justin Bieber deu o seu primeiro concerto em Portugal, no Pavilhão Atlântico (actual MEO Arena). Inicialmente tinha duas datas marcadas mas a segunda, no dia 12, foi cancelada.

'Temos de desculpar'

A tour foi desde o início marcada por incidentes. No primeiro concerto, Justin Bieber vomitou em palco e teve de interromper o espectáculo. Desmaiou num dos concertos que deu em Londres, e acabou por ter o seu aniversário numa discoteca também da capital inglesa – o espaço estava todo preparado para o receber – estragado porque proibiram a entrada de um dos amigos, Jaden Smith (filho do actor Will Smith), por ser menor de idade. Entretanto, quase se envolveu em confrontos com um paparazzo.

Os problemas não se ficaram por aí – de resto, 2013 foi o seu annus horribilis. Em Amesterdão, quando visitou a casa-museu de Anne Frank, foi criticado por ter escrito no livro de visitas que esperava que a jovem judia, que morreu num campo de concentração durante a II Guerra Mundial, caso estivesse viva, tivesse sido uma Belieber. No Brasil, grafitou o muro do hotel onde estava instalado e voltou a repetir a façanha na Austrália.

Já este ano, a 23 de Janeiro, foi preso por conduzir sob a influência de drogas e álcool e por estar a fazer corridas de rua, em Miami (Florida) – sendo libertado no próprio dia depois de ter pago uma  fiança de 2.500 dólares. No mesmo mês foi acusado por um vizinho de atirar ovos para a sua casa, provocando, segundo a vítima, estragos superiores a 20 mil dólares.

As admiradoras portuguesas não puderam ficar indiferentes a estas atitudes. “Fiquei um bocado preocupada. Ele está a portar-se um bocadinho mal por causa das más companhias e problemas amorosos”, justifica Jéssica Nunes. “É da adolescência, é só uma fase, ele nunca foi assim”, acrescenta Jéssica Lobo.

Porém, nenhum destes incidentes parece abalar a admiração das Beliebers. “Nós temos de desculpar não é? Gostamos muito dele e estamos sempre ao lado dele, mesmo nos maus momentos”, afirma Jéssica Nunes. Uma postura incompreendida por alguns colegas de escola. “As pessoas julgam o Justin e julgam-nos a nós. Gozam quando acontece alguma coisa má e quando nós choramos. Não conseguem mesmo perceber”, explica Mariana. “Não me incomoda porque eu sei quem ele é”, reage Jéssica Lobo. “Conhecemo-lo pela maneira de ser, a maneira de ele olhar, de se rir e da carinha dele. Ele próprio dá-nos conselhos e ajuda-nos nos momentos mais difíceis pelo Twitter e nas redes sociais”, refere Jéssica Nunes.

Amor à primeira canção

Goste-se ou não dele, Justin Bieber é um dos maiores fenómenos da cultura pop do século XXI. Com apenas 20 anos, já lançou três discos, tem um filme sobre a sua vida, centenas de vídeos no YouTube, uma fortuna estimada em cerca de 150 milhões de dólares e uma legião de fãs que segue todos os seus passos.

Criado pela mãe, que engravidou quando tinha apenas 17 anos, e pelos avós maternos, Justin foi descoberto em 2008 pelo agente Scooter Braun, que viu no YouTube vídeos que a mãe publicou de performances do filho – já nesta altura, o jovem cantor tinha vários seguidores.

Foi através de Braun que Justin Bieber conheceu o cantor de R&B Usher, que o encaminhou para o produtor norte-americano L.A. Reid. Com apenas 14 anos, Justin Bieber já tinha um contrato com a produtora de Reid e o sucesso foi praticamente imediato.

Hoje em dia, o seu canal no YouTube tem 9 milhões de seguidores, no Facebook são mais de 65 milhões e no Twitter cerca de 51 milhões.

No caso de Jéssica Nunes, o primeiro clique deu-se com o vídeo da música 'Baby'. “A voz dele ficou na cabeça e nunca mais saiu. Gostei muito dele e da maneira como cantava”. Já Mariana, a primeira música que ouviu foi 'One Less Lonely Girl' e aquilo que mais a chamou a atenção foi “a beleza dele”.

Jéssica Lobo, por sua vez, recorda que Justin Bieber passou a fazer parte da sua vida desde que viu o vídeo 'One Time'. O melhor exemplo disso é o seu quarto. As paredes que rodeiam a sua cama estão crivadas de posters de cima a baixo, uns do início da carreira do cantor, outros mais recentes e alguns com fotografias de Jéssica coladas ao lado do seu ídolo. “Faz-me pensar que ele está aqui”, afirma enquanto aponta para um poster da sua altura, com a uma fotografia de corpo inteiro do cantor.

Como não podia deixar de ser, as três Beliebers marcaram presença no concerto do Pavilhão Atlântico e passado pouco mais de um ano, recordam-no como se fosse ontem – “estive lá desde as 13h30 até às 19h30”, conta Jéssica Lobo. Ver o cantor de perto foi inesquecível. “Ele é diferente ao vivo, é um bocadinho mais pequeno”, relembra Jéssica. “Vê-lo ao vivo foi lindo”, recorda emocionada Jéssica Nunes. “Gostei muito quando ele subiu para uma máquina e ficou mesmo próximo de nós”.

Foi precisamente este evento que aproximou Mariana e Jéssica Nunes. “Conhecíamo-nos mas não nos dávamos muito”, afirma Mariana. Jéssica acrescenta: “Estávamos no concerto e começámos a falar do espectáculo e do Justin e agora somos melhores amigas”.

E se o vissem na rua? O nervosismo apodera-se destas Beliebers só de pensar nessa hipótese. “Ai meu Deus! Não sei, era um sonho, não sei. Agarrava-me logo a ele e não o largava”, afirma Jéssica Nunes. Jéssica Lobo, em tom de brincadeira, vai mais longe: “Metia umas algemas e nunca mais saía dali [risos]”.

rita.porto@sol.pt