Por detrás do candelabro

Vocalista da banda escocesa Wild, Beau McLellan podia ter seguido um brilhante percurso na música não fosse ter desistido de lutar contra as garras da indústria discográfica. Mandou tudo para o ar, que é como quem diz, vendeu o que tinha, e de mota chegou a Loulé, onde comprara uma casa sem sequer a ter…

“Queria sair da Escócia e do negócio da música e se este meu amigo que tinha a casa no Algarve tivesse para vender uma no Vietname, eu tinha ido para lá… Mas quando cheguei, adorei!”, remata em jeito de balanço dos 24 anos em que tem vivido e trabalhado em Portugal. A primeira iniciativa, mal chegou, foi reconstruir essa casa de campo. Pouco tempo depois aceitou o desafio para se tornar apresentador de um programa de televisão escocês sobre Portugal: “Foi aí que conheci o país todo”. Apaixonou-se e nunca mais pensou em regressar às 'Terras Altas'.

No entanto, foram precisos alguns anos para que o nome McClellan ficasse definitivamente ligado ao design de iluminação. Antes de constituir uma empresa milionária, com projectos nos quatro cantos do mundo e prémios internacionais, Beau foi representante em Portugal de fotógrafos estrangeiros, produtor de moda e até construtor de cenários para filmes publicitários (entre eles para a Coca Cola, Nike ou Volkswagen). “De Verão tinha esses trabalhos e de Inverno fazia esculturas de grandes dimensões” em ferro forjado numa oficina que o próprio montou de maneira totalmente autodidacta.

“Vejo-me como um artista que pode trabalhar em ramos diferentes da arte. Para fazer uma canção ou um candelabro ou uma peça de ferro forjado uso a mesma parte do cérebro. Gosto sempre de dar estes saltos criativos…”, reconhece.
Da pequena oficina começaram primeiro a sair castiçais, depois grades de protecção de janelas e a seguir portas trabalhadas em ferro forjado. “Nessa altura o Algarve era muito diferente (foi quando a Quinta do Lago começou) e nós ganhámos grandes projectos para essas casas, o que foi bom para depois investir em novo equipamento para fazer esculturas em grande escala. A empresa cresceu muito nesses anos”, recorda. Apesar do sucesso, Beau preparava novo salto criativo.

“Passámos do ferro forjado para a iluminação porque estávamos a ter grande sucesso e um arquitecto da Quinta do Lago, Stuart Siton, escocês, com quem eu sempre fiz muitos trabalhos, pediu-me que lhe fizesse um candelabro. E assim foi. Era em aço inox forjado e gostei muito do projecto porque era um trabalho com cor, com vida… Adorei esta nova possibilidade de luz”.

Fechou a oficina, pôs em suspenso a sua vida e durante um ano correu o mundo à procura do que de melhor se fazia em iluminação. Em Itália descobriu os LED numa feira do sector e comprou um contentor de sucata a uma das empresas aí representadas. Com ele fez o seu primeiro candelabro de assinatura, o mesmo que através da empresa alemã Brumberg concorreu em 2007 aos prémios Red Dot e levou para casa quatro galardões. “Havia 35 mil pessoas a concorrer e não tínhamos nenhuma expectativa de ganhar…”. A boa notícia chegou quando estava no Dubai a fazer uma exposição com a sua mais recente colecção: “Com isto ganhei algum nome em termos de design e depois entrei em projectos enormes, como o maior candelabro do mundo, no Qatar [Doha]”. O projecto, que integrava um edifício público, foi posteriormente comprado pelo primeiro-ministro daquele país. “Uma semana antes de acabarmos, o primeiro-ministro Abdullah bin Nasser comprou todo o edifício e o candelabro deixou de estar acessível ao público”.
Bem à vista de toda a gente está o candelabro que fez para o Hotel Conrad, no Algarve. Aí uma 'chuva de lâmpadas metálicas' acompanha toda a zona da escadaria central, em mármore.

Concebidos com cristais Swarovski ou Baccarat e metais preciosos, todo o design e produção são feitos em Loulé, apesar de contarem com a colaboração de empresas dos quatro cantos do globo. Quanto a preços, vão dos 5 mil aos 300 mil euros. Mas o artista garante que há projectos para (quase) todas as bolsas: “Tenho muitos clientes famosos porque são todos super-milionários. Mas também temos flexibilidade para fazer trabalhos para outros orçamentos. Fazemos colecções em que com mais peças temos um design de alto nível ou com menos peças, temos uma coisa mais acessível”.

Como não pensa sair do Algarve – e acredita profundamente no potencial criativo dos jovens designers nacionais – todos os anos promove, em Loulé, o International Design Festival. Um evento que reúne designers, arquitectos, actores e até duplos de cinema: “O ano passado, um amigo actor que faz parkour, o Sebastien Foucan (foi ele que fez a cena de parkour do filme 007 Casino Royale), veio falar da possibilidade de os arquitectos fazerem edifícios mais 'parkour friendly' para combater a obesidade infantil”. O próximo encontro está agendado para dia 25 de Junho. 

patricia.cintra@sol.pt