Guterres e os presidenciáveis sexagenários

Foi com naturalidade que António Guterres veio agora admitir a hipótese de se candidatar a Belém nas eleições de Janeiro de 2016: «Há sempre uma probabilidade, mesmo que mínima, de isso acontecer», reconhece o ex-líder do PS.

Porque o que é natural (e tem sido regra) é as presidenciais portuguesas apresentarem como principais candidatos personalidades com experiência e competência qualificadas a par de uma carreira política publicamente reconhecida. Foram esses os casos de Mário Soares, Freitas do Amaral, Jorge Sampaio ou Cavaco Silva, que concorreram a Belém já com currículos bem preenchidos como líderes dos principais partidos ou em funções de chefia do Governo.

Nas presidenciais de 2016, Guterres é, de longe, o melhor e mais qualificado à esquerda. Foi o líder do PS que marcou o fim do ciclo de dez anos de poder de Cavaco Silva e que desempenhou durante seis anos, com maiorias quase absolutas, o lugar de primeiro-ministro. Saiu do Governo em 2002, para «evitar que o país caísse no pântano», politicamente fragilizado após uma severa derrota nas autárquicas.

Mas reforçou o seu prestígio, internacional e nacional, nestes dez anos como alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados – cargo do qual sai em 2015, no timing ideal para concorrer a Belém.

Já na direita, ou no centro-direita, os candidatos naturais são Marcelo Rebelo de Sousa, apesar das suas proverbiais hesitações de percurso, e Durão Barroso, não obstante garantir a pés juntos que não quer ser candidato e transmitir a imagem de que não quer outra coisa… (e nem as suas sondagens são tão más como dizem, pois aparece já nos primeiros cinco ou seis lugares). Em 2016, Guterres terá 67 anos, Marcelo 68 e Barroso 60. 

E parece ser mesmo essa a faixa etária ideal para a Presidência da República (Soares fez 62 e Cavaco 67 quando chegaram a Belém).

Olhando para o ciclo presidencial seguinte, em 2026, não deixa de ser curioso verificar que, à direita, Passos Coelho fará então 62 anos e Paulo Portas 64. Ao mesmo tempo, à esquerda, António Costa completará 65 anos em 2026, Sócrates fará 69 e Seguro 64. Um deles, muito provavelmente, acabará por sentar-se no Palácio de Belém.

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