Em Bruxelas desde que o Parlamento Europeu passou a ser eleito por voto directo, em 1979, os eurocépticos preparam-se para lucrar com os efeitos de cinco anos de crise financeira na UE. Mas o impacto da invasão na vida política europeia depende da difícil missão de formar um grupo homogéneo entre ‘parceiros’ europeus que pouco mais têm em comum do que o seu nacionalismo.
Neste momento as divisões são de tal ordem que existe a possibilidade de o PE ter não um mas dois grupos políticos de cariz eurocéptico. No topo de cada um deles estão líderes que ameaçam vencer as eleições do próximo domingo em dois dos principais países da UE – a francesa Marine Le Pen e o britânico Nigel Farage.
O rosto do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP) já rejeitou publicamente a ideia de se juntar à nova Aliança Europeia pela Liberdade (EAF, na sigla em inglês), formada por Le Pen e por outro ilustre nacionalista, o holandês Geert Wilders, também candidato à vitória na sua pátria. «São preconceituosos e anti-semitas», afirma o inglês; «criticar o vizinho para parecer mais branco do que o branco não é correcto. Fá-lo com objectivos eleitorais», responde a francesa.
Jogo de sedução
Um grupo político dará aos eurocépticos mais tempo de antena no plenário, cargos de relevo tanto no PE como nas comissões, a possibilidade de liderar reformas legislativas. E um substancial reforço do financiamento atribuído pelo Parlamento. Mas as regras do PE implicam que para a sua formação é necessário juntar no mínimo 25 eurodeputados de sete Estados-membros diferentes.
A actual Europa Pela Liberdade e Democracia (EFD), que Farage lidera com a italiana Liga Norte, conta com 31 deputados de 12 países. Mas tanto os transalpinos como os Verdadeiros Finlandeses, agora transformados em Partido dos Finlandeses, já mostraram vontade de trocar a EFD pela EAF.
O jogo de sedução foi iniciado por Le Pen e Wilders em Novembro, com uma reunião em Viena que além dos partidos citados contou com a presença dos nacionalistas flamengos do Vlaams Belang, dos Democratas Suecos e do Partido Nacional da Eslováquia, além dos anfitriões do FPO.
Com o número de deputados praticamente garantido – é possível que os eurocépticos franceses e holandeses somem mais do que 25 deputados –, a nova aliança depende do sucesso eleitoral dos parceiros. E se mais de um dos presentes falhar a eleição de pelo menos um deputado não se cumpre o requisito dos sete países.
A guerra pelo deputado eurocéptico deve prolongar-se após a votação, já que grupos como o Movimento 5 Estrelas do italiano Beppe Grillo concorrem sem ligação a nenhum grupo político e o comediante até já deixou no ar a hipótese de que cada um dos eleitos do seu movimento poderá escolher a sua bancada.
Ninguém sabe qual a real dimensão da onda eurocéptica, até devido a incógnitas como Grillo. Mas os analistas concordam que a principal consequência será uma aproximação entre os grandes blocos populares e socialistas, que poderão ser obrigados a cooperar directamente caso os resultados fragilizem os habituais aliados pontuais nas votações, liberais e ecologistas. Resta saber se essa espécie de bloco central não afastará mais os eleitores dos partidos tradicionais.