O título provocatório deste texto visa apenas salientar que a polarização do voto dos eleitores descontentes e indignados — que, um pouco por toda a Europa, se deslocou para os extremos do arco político, da Frente Nacional de Marine Le Pen em França (com 24% ou 25% dos votos) ao Syriza de Alexis Tsipras na Grécia (que vence com 26% a 30% dos votantes) — se concentrou em Portugal nos mais de 230 mil votos inesperadamente recolhidos pelo MPT. Que assim subiu a 7,1% e a quarta força partidária mais votada nestas europeias.
Anti-sistema no discurso político, populista no tom, demagogo nos argumentos, Marinho Pinto conseguiu, graças à sua popularidade e à imagem de justiceiro social que construiu, a proeza eleitoral de multiplicar por 10 os 23 mil votos do MPT nas europeias de 2009. E de surpreender tudo e todos ao eleger dois eurodeputados e ultrapassar claramente o Bloco de Esquerda. Fê-lo, sublinhe-se, com meios escassos e quase sem cobertura televisiva da sua campanha eleitoral.
Foi ele o verdadeiro vencedor da noite eleitoral. Se ao PS coube a vitória formal, por ser o partido com mais votos e mais eleitos, se António José Seguro foi o vencedor frustrado, por ter ficado com menos de quatro pontos de vantagem da desgastada coligação PSD/CDS — só houve, na verdade, um triunfador em toda a linha: o nosso Marinho Le Pen, que soube congregar a maior parcela do voto de protesto e do sentimento antipartidos.