"Sendo reconhecido lá fora como um dos melhores do mundo em determinadas técnicas, porque é que não sou valorizado cá em Portugal? Isto não faz sentido. Daí também estas fugas todas, que a gente está a ver hoje em dia, de jovens, e até de pessoas da minha idade, para fora", critica.
Carlos Neves tem 51 anos e vive em Vila de Punhe, Viana do Castelo, tendo exercido a profissão de electricista durante cerca de duas décadas.
Há oito anos, com o rebentar da crise e impulsionado por amigos, decidiu dedicar-se à escultura em casca de ovos, fazendo uso dos conhecimentos que adquiriu quando viveu na Rodésia, actual Zimbabwe.
Começou por trabalhar à navalha, mas agora já tem uma máquina.
Esculpe em todo o tipo de ovos, desde o de avestruz até ao de pomba.
A esmagadora maioria dos compradores das suas peças é estrangeira, sendo o 'ranking' liderado pelos noruegueses e pelos holandeses.
Em Portugal, tem peças no Museu da Amália e no Museu de Arte Popular Portuguesa, de Pombal, tendo igualmente pronta uma outra, com versos de Pedro Homem de Mello esculpidos, para oferecer ao Museu do Fado.
"Mas cá dentro o reconhecimento é muito, muito pouco e os apoios são, pura e simplesmente, inexistentes", desabafa.
Por uma escultura em ovo de galinha cobra uns 5 euros. Já um ovo de gansa poderá custar 75 euros e um ovo de avestruz poderá subir até 3.000.
"Tudo depende dos trabalhos", explica o escultor, que também "põe cá fora" ovos com bordados regionais de Viana.
Muito recentemente, Carlos Neves começou a esculpir em cabaças, com uma técnica que garante ser "nova a nível mundial".
"É uma novidade mesmo para quem já esculpe há muito tempo. Os próprios colegas me perguntam como é que eu consigo fazer isto", assegura.
Mais do que paciência, Carlos Neves refere que o segredo para a arte que abraçou é o "amor" que põe na confecção de cada peça.
É por esse amor que teima sem seguir em frente, mesmo que cada dia se lhe apresente como uma nova luta pela sobrevivência.
"Está muito difícil esta vida, é uma luta muito sozinha", lamenta, numa alusão às portas fechadas que vai encontrando um pouco por todo o país.
Lusa/SOL