Pelas Terras do Lima

Ponte de Lima é um recanto peculiar: a sua recusa em ascender a cidade permite-lhe agora o indisfarçável orgulho de se apresentar como a vila mais antiga de Portugal, com foral a remontar a 1125, ainda sob a designação de Terra da Ponte. 

E foi efectivamente a sua ponte, construída no século I pelos romanos, integrada na via que ligava Braga a Astorga (e que até finais da Idade Média possibilitava o único atravessamento seguro do Rio Lima), que deu origem ao povoado.

A actualmente designada Ponte Velha já não é a primitiva ponte romana – embora desta ainda restem cinco arcos redondos – mas uma reconstrução tardo-medieval que lhe acrescentou dezassete arcos ogivais em estilo gótico, compondo um harmonioso exemplar de arquitectura medieva.

A importância estratégica dada pelo cruzamento do rio levou a que, em 1359, o burgo fosse muralhado – e dessa muralha resistem ainda vários vestígios, nomeadamente duas das suas nove torres e uma das seis portas.

O que desapareceu foi levado pela voragem do progresso e da expansão urbana, que a partir do século XVIII conduziu à demolição de torres e de partes da muralha para reutilização da pedra.

Mas o século XVIII trouxe também a disseminação por todo o concelho das opulentas casas senhoriais construídas pela fidalguia abastada, que hoje dão um especial encanto às terras do Lima e lhe outorgam lugar pioneiro na difusão do turismo de habitação.

Talvez estes pergaminhos de nobreza ajudem a explicar o gosto e o cuidado com que o burgo trata hoje do seu património edificado, e a especial predilecção dos seus 2.800 habitantes pelos jardins – a ponto de os espaços verdes ocuparem cerca de 100 ha em toda a urbe, o que a faz ser conhecida por ‘vila-jardim’.

Não se fica por aqui, porém, o empenho na preservação harmónica do território limiano. Em 2000, o município criou na margem do Rio Lima (em 350 ha da zona húmida atravessada pelo Rio Estorãos) a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, que alcançou importância internacional com a sua posterior classificação como Sítio Ramsar, passando a integrar a rede de zonas húmidas fundamentais para as espécies migradoras.

Mas, mais do que uma área protegida, as Lagoas são um espaço de lazer e de visitação ambiental, cruzado por cinco percursos interpretativos circulares, de extensão variável e sem relevos significativos, sempre em trilhos bem assinalados ou em passadiços de madeira. Tem também percursos cicláveis, nomeadamente o caminho de 4 km que liga as Lagoas à vila de Ponte de Lima pela margem direita do rio.

E, para quem queira ficar mesmo no interior da área protegida a desfrutar da natureza, há o Centro de Acolhimento da Quinta de Pentieiros, com oferta de alojamento em parque de campismo, bungalows ou albergue, e actividades lúdicas como piscina ou hipismo.

Claro que não é a experiência radical de uma passeata pelo vizinho Parque Nacional da Peneda-Gerês. Mas quando um urbano cheio de pica e nula prática de montanha me vem visitar e quer conhecer a beleza das terras minhotas, é a Ponte de Lima e às Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos que o levo. Fica garantido o sucesso do passeio!