Uma pesquisa da Aliança Global para os Cuidados Paliativos (WPCA, na sigla inglesa) citado pela BBC indica que em vários países, sobretudo os mais pobres, o acesso a analgésicos como a morfina é sistematicamente negado a grande parte da população. Oficialmente, devido aos receios de adição.
O relatório fala em 18 milhões de pessoas em sofrimento desnecessário durante o final de vida (números de 2012), com os doentes de cancro em situação especialmente delicada. Os cinco piores países para morrer são Moçambique, Etiópia, Egipto, Paquistão e Marrocos.
Em Moçambique, por exemplo, apenas 153 em cada 100.000 doentes com necessidade de cuidados paliativos recebe tratamento adequado. Em contraponto, países como a Áustria e o Reino Unido proporcionam cuidados a praticamente 100% dos doentes terminais.
O acesso dificultado à morfina explica-se pelo facto de muitos países não encomendarem quantidades suficientes desta substância, que é controlada a nível global pelo Órgão Internacional de Controlo de Narcóticos, uma agência das Nações Unidas. O problema não está tanto nos recursos financeiros desses estados, mas sim na “ignorância” dos governos em relação à necessidade e possibilidade da prestação de cuidados paliativos, afirma a WPCA.
Na Etiópia, relata a organização, há casos de doentes oncológicos a atirarem-se para a frente de camiões para pôr termo ao sofrimento.
Nos países com maiores recursos, o problema é o oposto: há cada vez maior abuso de substâncias analgésicas, sobretudo nos Estados Unidos. O fenómeno, teme a WPCA, poderá levar as autoridades a restringir cada vez mais o acesso à morfina para quem realmente precisa.