25 anos depois, a China continua submissa a Tiananmen

É assim há 24 anos: sempre que chega o dia 4 de Junho, data do aniversário do massacre de Tiananmen, as autoridades chinesas reforçam a segurança na mais mítica praça da capital. Para Shen Tong, líder dos protestos estudantis que durante meses ameaçaram a liderança comunista de Pequim, a presença policial em Tiananmen serve para…

“A situação agora é, em psicologia colectiva, semelhante à síndrome pós-traumática de uma vítima de violação, de uma violação infantil”, diz hoje o activista chinês que vive exilado em Nova Iorque em entrevista ao espanhol El País, que assinala o 25.º aniversário do massacre que vitimou entre 500 a 2.600 estudantes. 

Sehn Tong “desconhece” ainda hoje a “extensão real” da rede que lhe permitiu sair do país apenas seis dias após o massacre de Tiananmen. “Foi quase um milagre”, diz ao lembrar que muitos dos seus companheiros de luta “foram detidos e estiveram dias, semanas e alguns estiveram escondidos durante meses e anos até conseguirem sair da China”. Fugas apenas possíveis porque “mais de metade dos ministros e generais” estavam do lado dos estudantes, garante Shen Tong.

Se internamente o episódio continua a ser ignorado pelas autoridades, as entrevistas externas a figuras do protesto e da repressão policial vão ajudando a descobrir informações ocultadas pela liderança comunista. O New York Times cita entrevistas de historiadores ao general Xu Qinxian para defender que a recusa deste em aceitar as ordens para carregar sobre os manifestantes levou a cúpula comunista a ”reforçar a sua crença de que os protestos estudantis eram nada menos do que uma ameaça mortal ao Partido Comunista”.

Na entrevista ao El País, Shen Tong lembra que já durante os protestos os estudantes reagiram com “muita irritação” à forma como a liderança política considerava o movimento “contra-revolucionário” nas páginas do Diário do Povo, órgão oficial do PC chinês. “Tratava-se de uma homenagem à morte de Hu Yaobang e uma petição por reformas moderadas”, reafirma. 

“Pedíamos uma maior liberalização política e económica e igualdade, embora com mais ênfase na luta contra a corrupção”, diz o líder estudantil que considera que o “Governo pode ter matado o mensageiro mas recebeu a mensagem”. Prova disso é o “chamado milagre económico chinês”, que Shen Tong lamenta ter sido acompanhado por um “grave retrocesso na política de direitos humanos e liberdades civis e pela existência de um desenvolvimento muito desequilibrado”. 

nuno.e.lima@sol.pt