Inconstitucionalidades em épocas difíceis

Tornou-se moda dizer que o Tribunal Constitucional não vive neste mundo, e não percebe as medidas que  é necessário tomar em épocas excepcionais de crise. Alguns, mais ousados na ignorância, apesar da evidência de que as posições dos juízes não são tomadas em função das suas posições ideológicas, pois cruzam-se estas com as apreciações da…

E nem reparam que, no Sol e Lua desta maioria, ou seja, na Alemanha, o Tribunal Constitucional (o ‘Bundesverfassungsgericht’) é muito mais picuinhas do que o nosso, e ainda mais indiferente à crise.

Dos comentadores populares, daqueles de faca afiada na boca, que disparam mais depressa (escrevem ou falam) do que a própria sombra (a dita, mesmo) nas caixas de comentários da Internet abertas ao público, chega a aparecer gente que fala no obsoletismo da nossa Constituição, ainda ‘virada para o socialismo’. Esquecem, ou não sabem (porque nunca a viram), o facto de as únicas referências ao socialismo que nela restam estão no Preâmbulo, e não afectam em nada as decisões que têm sido tomadas pelo Tribunal Constitucional.

Alguns académicos pacientes e especialmente formados na matéria têm explicado (talvez sem uns desenhos que a alguns façam falta) que em qualquer outro pais do Ocidente, incluindo os liberais EUA e Inglaterra (nem vale a pena falar da Alemanha, onde o TC fala mesmo sem ser chamado a isso), as mesmas medidas cá chumbadas seriam lá também vetadas. E que, finalmente, é nas épocas excepcionais de crise que os Tribunais Constitucionais em qualquer lado do mundo são mais necessários, para evitar descontrolos pouco democráticos. Para isso, a Democracia exige separação de poderes, e os Tribunais não são eleitos pelo povo – em qualquer sítio do mundo.

Pois se agora, até no PS, na luta interna, aparece gente a dizer que não lhe interessa os estatutos ou as normas, quer só avançar… Sinais infelizes dos tempos.