"Muitas delegações vieram a Goa e muitos memorandos de entendimento foram assinados – incluindo pelo menos três importantes – e nada funciona. A vinda de delegações, qualquer que seja a sua natureza, regra geral, porque não são todas, é um fogo-de-artifício", avaliou Aurobindo Xavier, em entrevista à agência Lusa.
A Sociedade Lusófona foi criada há dois anos com a finalidade de "promover e apoiar a cultura lusófona em Goa, aprofundando as relações entre Goa e os países e regiões lusófonas e estabelecendo projetos nas áreas artística, social, educacional e da ciência e tecnologia".
Para Aurobindo Xavier está na hora de passar à ação: "Que não se assine nenhum memorando de entendimento, mas que se pratiquem relações comerciais e económicas intensas nos próximos cinco anos", afirmou, argumentando que é chegada a hora de apontar o foco para o "sentido prático" das mesmas.
É que, defendeu, nessa vertente, os resultados ficam aquém: "Pergunte aos chefes das delegações das diversas empresas e instituições que estiveram aqui o sucesso que tiveram. Não digo que não tiveram sucesso nenhum mas, em termos de eficiência e eficácia duradoura e permanente acho que não. Perderam-se muitos recursos humanos e financeiros".
"Nenhum país se pode dar ao luxo de perder recursos, sobretudo os humanos. O foco de qualquer delegação vai ser sempre a implementação de projetos, de laços comerciais/culturais duradouros que crescem e não que ficam estagnados devido a quaisquer condicionantes políticas ou financeiras", realçou Aurobindo Xavier.
Neste sentido, deu o exemplo de Portugal que "não tem muito, neste momento, mas que com pouquíssimo – por exemplo, 3.000 euros ainda é muito dinheiro em Goa – pode fazer muita coisa, cinco vezes mais do que em Portugal [e] com benefícios para a lusofonia".
"Não são os recursos financeiros que são importantes – são, mas não exclusivamente", frisou, para realçar que o que interessa é "a capacidade de visão e de estratégia a longo prazo".
Em Goa, os países de língua portuguesa representam "quase zero em termos comerciais", segundo Aurobindo Xavier, para quem, no caso do pequeno estado indiano, se deve orientar esta plataforma de negócios para as pequenas e médias empresas.
"Goa podia servir de plataforma para estabelecer um relacionamento entre as [PME] indianas e goesas com o espaço lusófono", defendeu o responsável, "bastante otimista em relação à abertura de Goa e da própria Índia via Goa ao espaço lusófono".
Contudo, nota, "pouco ou nada" foi feito, aproveitando esse elo, para o estabelecimento de "uma base eficaz e permanente" e que, portanto, há caminho a percorrer nesse sentido.
"Há uma geração nova e dinâmica, acho que é o momento certo", realçou.
No caso da Índia, como um todo, o cenário é diferente. Dados da Sociedade Lusófona de Goa indicam que o volume de negócios entre a Índia e os oito países de expressão portuguesa e a Região Administrativa Especial de Macau (onde o português é uma das duas línguas oficiais) representa quase 3% do comércio total do gigante asiático, correspondendo em 2012/2013 a cerca de 20 mil milhões de dólares norte-americanos.
O Brasil surge à cabeça dos parceiros da Índia no universo da lusofonia, seguido de Angola e Moçambique e, mais longe, de Portugal.
Em janeiro, Goa acolheu o congresso "A Índia e o Mercado Lusófono", cujo "sucesso" levou a Sociedade Lusófona de Goa a decidir tornar o evento anual, estando a próxima edição agendada para 26 e 27 de fevereiro de 2015.
Atualmente, a Sociedade está a colaborar com a AIP – Associação Industrial Portuguesa – na organização de uma missão empresarial ao pequeno estado indiano, limitada a 12 empresas, entre os dias 23 e 28 de março.
Lusa / SOL