Mesmo quando lhe procuram reproduzir a receita primitiva, raramente Braga surge como referência, antes vão buscar um ‘à moda antiga’ ou um ‘à antiga’, que lhe dilui a origem nos confins dos tempos.
Falamos evidentemente do arroz de pato, tão bracarense quanto o bacalhau à Narcisa, as frigideiras, as papas de sarrabulho, o frango pica no chão, o pudim Abade de Prisco ou os fidalguinhos…
E é claro que esse tão apregoado arroz de pato à antiga, melhor ou pior apresentado e melhor ou pior cozinhado, é o familiar arroz de pato servido sem grande alarido pelos restaurantes da cidade ou nas mesas das casas bracarenses, das mais modestas às mais refinadas.
Em Braga é esse o arroz de pato, nem antigo nem moderno, é o único que se conhece, em que o arroz é cozido com o caldo que serviu para cozinhar a ave, ganhando assim o seu sabor e uma untuosidade muito específica.
Sim, porque o pato é cozido com chouriço e presunto; e depois a sua carne, desfiada, é colocada entre duas camadas de arroz, juntamente com pedacinhos desse presunto, enquanto o chouriço e mais presunto vão servir para lhe fazer a cobertura final.
E é assim que tudo vai finalmente ao forno, a ganhar aquele tão característico cobrimento tostadinho…
O meu filho, apesar de francês e cidadão parisiense assumido, ganhou desde pequeno uma predilecção especial por tudo o que seja arroz, deixando a sua costela portuguesa guiar-lhe o palato e moldar-lhe o gosto culinário. E dentro dos arrozes, o seu prato preferido é, de longe, o arroz de pato.
Desgraçado, que das mil maravilhas que compõem a cozinha francesa não consta o arroz! Assim, de cada vez que as férias o trazem a Braga, a sua grande ânsia é matar saudades do maravilhoso cereal.
Contudo, apesar de bem bracarense e de poder ser encontrado ocasionalmente em qualquer restaurante da cidade, não é fácil achar um estabelecimento que tenha arroz de pato permanentemente no menu. É um prato demasiado popular para ter honras de especialidade!
Felizmente existe a Taberna do Félix, que o tem sempre disponível no cardápio. E é aí que de imediato levo o Mateus, mal chega de Paris, a curá-lo da ressaca da abstinência arrozal…
A Taberna do Félix, no Largo da Praça Velha, no centro histórico da cidade, é um espaço acolhedor, cheio de objectos antigos e memórias de outros tempos, propriedade do Félix e da Mina, o casal que lhe dá o charme peculiar que ostenta.
Começou por ser bar, onde se serviam também petiscos simples, mas rapidamente evoluiu para restaurante, com uma ementa à base de pratos caseiros, despretensiosos, como os que poderiam encontrar-se em casa de uma qualquer avó bracarense.
E, por feliz coincidência, a Taberna do Félix não só tem permanentemente arroz de pato na carta como faz, sem exagero, o melhor arroz de pato do mundo! De maneira que, para mim, é ainda um prazer suplementar ficar a ver o Mateus a deliciar-se com a excelência do arroz…