Casaram a 13 de Junho de 1958, uma sexta-feira, numa cerimónia religiosa que decorreu na Igreja de Santo António, padroeiro considerado o santo casamenteiro.
"Muita compreensão, amor, desculpar certas coisas um ao outro" tem sido o segredo de 56 anos de matrimónio, contou à Lusa Maria de Lurdes.
Entre fotografias antigas e recortes de jornais de meio século, Maria de Lurdes e José Soares trocam olhares de grande cumplicidade ao recordarem os 56 anos de casamento.
"Começámos por namorar à janela. Morávamos perto, ele passava à minha porta, assobiava e eu vinha à janela", descreveu Maria de Lurdes.
O casamento surgiu não com um pedido oficial, mas sim quando José Soares viu o anúncio "Noivas de Santo António" no jornal Diário Popular e resolveu inscrever-se sem o conhecimento da futura mulher.
"Fui ao Diário Popular fazer a inscrição. Contei-lhe depois, sem qualquer expectativa de sermos seleccionados, pois eram mais de 300 noivos inscritos", lembrou.
Também Maria Helena e Bernardino Cardoso foram um dos casais escolhidos para casarem no dia de Santo António.
Vizinhos na freguesia de Penha de França, em Lisboa, o casal conheceu-se num arraial das festas populares. "Ele foi pedir-me para dançar e como era amigo do meu irmão a minha mãe autorizou e foi até hoje", recordou Maria Helena.
O namoro tinha hora estipulada das 21:00 às 23:00 e sempre acompanhada pela mãe, caso "chegasse fora de horas a casa levava uma valente tareia".
A iniciativa "Noivas de Santo António" seleccionou os casais com mais dificuldades financeiras, tendo proporcionado aos 36 noivos "o copo de água, o vestido da noiva, as alianças e um enxoval com coisas para a casa".
"Casámos numa sexta-feira, mas na segunda já havia trabalho". Segundo Maria de Lurdes e José Soares, a lua-de-mel foi passada no cinema no palácio do Arco do Cego a ver o filme "Violetas Imperiais". Já o casal Maria Helena e Bernardino Cardoso passaram numa residencial, em Sintra.
Para celebrar cada ano de matrimónio, os casais juntam a família mais próxima e vão à igreja renovar os votos.
Em 2008, dos 36 casais que contraíram matrimónio em 1958, estiveram na Sé de Lisboa seis casais para celebrar as bodas de ouro. Hoje, apenas cinco dos casais se mantêm juntos, três deles residem em Lisboa, um está emigrado em Moçambique e outro em França.
A iniciativa dos casamentos de Santo António foi interrompida em 1974 e retomada em 1997 pela Câmara Municipal de Lisboa.
Desde essa altura, e este ano não é excepção, a iniciativa leva 16 casais a dizer o "sim", onze em cerimónia religiosa católica, na Sé de Lisboa, e cinco no civil, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Lisboa.
Desde 1997, já se casaram 272 casais, sendo que na próxima quinta-feira totalizam 288.
Lusa/SOL