Frustrado com uma experiência falhada, quando tentava perceber os efeitos de travagens bruscas em pilotos de aeronaves, Edward Murphy deixou a sua marca na história com uma expressão catastrofista: “Tudo o que pode correr mal vai correr mal”. Foi o que se passou na estreia de Portugal no Mundial, frente à Alemanha.
Durou pouco mais de 10 minutos a resistência de Cristiano Ronaldo e companhia. Exactamente até o árbitro sérvio Milorad Mazic assinalar penálti a favor dos germânicos. Limitou-se a ser coerente com o que se tem visto no Brasil por parte dos seus parceiros do apito: ao menor contacto na área, as decisões favorecem as selecções com maior peso. Dá a sensação de estarem à espera do mínimo pretexto para agradarem a alguém.
Pouco depois, Mazic expulsou Pepe por encostar a cabeça a Muller, numa acção tantas vezes vista nos campos de futebol que acaba com a exibição de um cartão amarelo. O sérvio decidiu-se pelo vermelho e está no seu direito – mas talvez o mau génio de Pepe tenha tido uma influência na decisão que não era suposto.
Também fechou os olhos a um penálti sobre Éder, mas chega de falar de arbitragem. Os jogadores de Portugal tudo fizeram para que, apesar dos erros, o árbitro saísse como inocente. Os defeitos apareceram todos, as virtudes ficaram em casa. Contra uma das melhores selecções do mundo, é fatal.
Rui Patrício nunca foi seguro a jogar com os pés e mostrou-o – além de ter largado uma bola para os pés de Muller (4-0). João Pereira arriscou no contacto físico em zona proibida e sofreu com a versão FIFA da arbitragem (1-0). Pepe voltou a armar-se em mau depois de já ter comprometido num canto, ao perder um lance pelo ar, nos quais costuma ser intransponível (2-0). Bruno Alves teve o seu momento de desconcentração (3-0). Fábio Coentrão lesionou-se. Miguel Veloso revelou-se incapaz de iniciar jogadas com critério. Moutinho até para correr denotou dificuldades. Meireles andou alheado do jogo. Nani teve pouca bola e viu o remate mais perigoso sair a centímetros da barra. Ronaldo voltou a deixar-se dominar pela frustração. E Hugo Almeida ficou estendido no relvado ainda na primeira parte, agarrado à perna.
Falta Paulo Bento, também ele fiel à “lei de Murphy”. De uma equipa que, às suas ordens, sempre foi competente nos grandes momentos, hoje viu-se um conjunto de jogadores que atiraram a toalha ao chão demasiado cedo e que se arrastaram em campo desde a expulsão de Pepe, ainda no primeiro tempo. Sim, a situação já estava difícil (com menos um jogador e em desvantagem por 2-0), mas pelo menos ao intervalo esperava-se que fosse capaz de animar as hostes.
Seja o que for que o seleccionador tenha dito no balneário, não resultou: os seus pupilos saíram derrotados para o descanso e regressaram cabisbaixos para 45 minutos ainda mais penosos (a sorte é que a Alemanha não quis carregar ainda mais na ferida).
Não é só marcar golos que conta. É a imagem que se transmite. A dignidade com que se perde. Falar é fácil, certo. Mas se pensavam que iam esmagar a Alemanha equivocaram-se. Por isso era imperioso lutar. Há formas distintas de perder por 4-0 com uma das selecções mais poderosas do mundo. Portugal escolheu a pior.
Editor de Desporto