"O Governo vê esta situação com alguma preocupação do ponto de vista estratégico da União Europeia (UE), que é um consumidor de gás que vem da Rússia e atravessa a Ucrânia", afirmou o secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, à margem da cerimónia de divulgação dos resultados da conclusão da segunda fase de privatização da REN.
Em declarações aos jornalistas, o governante defendeu que "a UE deve tomar como objectivo estratégico a diversificação das suas rotas e fontes de abastecimento".
O comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger, alertou hoje para a possibilidade de a Europa poder ter falta de gás no próximo inverno na sequência do anúncio da Rússia de que vai cessar o fornecimento à Ucrânia.
"As próximas semanas não serão problemáticas, vamos receber os volumes habituais de gás", garantiu Guenther Oettinger, alertando, no entanto, para um possível problema "caso o inverno seja rigoroso" e a situação se mantenha.
Neste contexto, Artur Trindade defendeu que "é muito importante a concretização do mercado interno de energia", o que "depende de Bruxelas", destacando "a interligação entre França e a Península Ibérica para que possa constituir uma alternativa de fornecimento".
"É uma oportunidade de Portugal se mostrar como uma rota alternativa e de segurança de abastecimento da União Europeia", acrescentou.
O consórcio russo Gazprom anunciou hoje a passagem para um sistema de pré-pagamento no fornecimento de gás à Ucrânia o que supõe o corte imediato do fornecimento do combustível ao país vizinho.
A decisão foi anunciada depois de às 10:00 em Moscovo (07:00 em Lisboa) ter vencido o prazo que a Rússia tinha dado à Ucrânia para pagar 1,95 mil milhões de dólares (1,45 mil milhões de euros), por dívidas anteriores de fornecimento.
Em Maio, o ministro da Energia, Moreira da Silva, defendeu no conselho informal de ministros da Energia que Portugal pode contribuir para uma redução em 4% das importações de gás natural proveniente da Rússia, desde que a UE invista nas interligações, nomeadamente no terceiro gasoduto entre Portugal e Espanha e ao resto da Europa.
"Se a União Europeia investir nas interligações, o Terminal de Gás Natural Liquefeito [GNL] de Sines pode substituir 4% de todas as importações de gás originárias da Rússia", afirmou à Lusa no final do conselho informal de ministros da Energia, que decorreu em Atenas.
Em declarações à Lusa, o governante explicou que a abordagem é de posicionar a Península Ibérica "como uma alternativa à importação de gás da Rússia e contribuir para uma maior segurança no abastecimento de gás na União europeia".
"A União Europeia depende em 40% do gás russo e 80% desse gás atravessa a Ucrânia. Defendemos que a Europa olhe para outras portas de entrada de gás natural e que olhe para a Península Ibérica e tire partido dos sete terminais de LNG, sendo um deles o de Sines", declarou.
Lusa/SOL