Quer isto dizer que há sempre duas perspectivas, ou mais, de analisar a questão. Pode dizer-se, após o descalabro dos 0-4 frente à Alemanha, que Portugal tem uma Selecção medíocre, com um treinador mediano e conservador nas opções como Paulo Bento, um guarda-redes inseguro como Rui Patrício, uma defesa amedrontada e que oferece de bandeja quatro golos aos alemães (o 1.º por João Pereira, que se deixou ultrapassar e teve que fazer penalty, o 2.º por falha de Pepe que quase não saltou à bola com Hummels, o 3.º por erro de Bruno Alves ao atrapalhar-se com a bola e entregá-la a Müller, o 4.º por fífias acumuladas de Rui Patrício e André Almeida). Sem esquecer um meio-campo apático e a revelar cansaço físico e um ataque onde Hugo Almeida é o retrato perfeito da inconsequência ofensiva. É fácil fazer uma análise destas – e verdadeiramente oportunista fazê-la depois, não antes, de uma derrota.
Mas, irritantemente, é este o tipo de análise que mais se tem ouvido, nas televisões e rádios, no dia a seguir ao nosso desastre futebolístico de Salvador da Baía. O português médio e típico adora dizer mal de quem está de rastos, compraz-se com a maledicência primária, é capaz de dizer o pior sobre quem parecia endeusar no dia anterior. É um comportamento quase doentio e abominável.
Porque a outra perspectiva é a de que um jogo, por muito mau que tenha sido, ou uma derrota, por mais humilhante que pareça, não bastam para definir a valia de uma Selecção – ou para arrasá-la liminarmente, como muitos se divertem agora a fazer.
A outra perspectiva é a da Selecção de Portugal que foi capaz de eliminar a Suécia com exibições brilhantes, que chegou às meias-finais do Euro-2012 e só perdeu nos penalties com a Espanha, que tem aquele que é actualmente considerado o melhor jogador do mundo e a maior parte dos seus futebolistas a actuarem em equipas de topo da Europa.
Voltando ao início. Portugal está classificado como a 4.ª melhor Selecção mundial, apenas atrás de Brasil, Alemanha e Espanha. Para que se perceba melhor: está à frente da Argentina, da Suíça, do Uruguai, da Colômbia, de Itália, de Inglaterra, da Bélgica, etc., etc. É isso o suficiente para vencer os EUA no domingo e o Gana a seguir? Em princípio, é. Mais do que suficiente. Mas futebol é futebol. E não mais do que isso, acrescente-se.