O PS está igual à Liga de Clubes

Quase parece a desacreditada luta pelo poder na Liga Portuguesa de Futebol. Com habilidades eleitorais, golpes de secretaria, contragolpes de esgrima estatutária, formalidades legalistas para adiar decisões e um ambiente de cortar à faca entre os candidatos na corrida. É a este ponto que chegou o confronto pela liderança do PS entre António José Seguro…

O que ocupa, por estes dias, os apoiantes de Costa e de Seguro não é o debate de ideias ou o cotejo de propostas. É discutir se é possível convocar eleições directas antes das primárias do final de Setembro, se o Conselho de Jurisdição do partido trava à partida qualquer hipótese de antecipar um Congresso electivo, se as primárias vão ou não ser impugnadas por constituírem matéria não prevista nos estatutos do PS, se vai haver muitas ou poucas providências cautelares.

No meio deste edificante debate partidário, Seguro e os seus seguidores não se escusam de atacar Costa com qualificativos que não ousam aplicar nas críticas a Passos Coelho ou a Portas. «Portugal não precisa de um primeiro-ministro de ocasião» como seria o «ambicioso» Costa, proclama Seguro sem avaliar o ricochete para o PS das suas despeitadas afirmações.

António Vitorino já apareceu, afogueado, a avisar que «quatro meses neste ambiente, em lume aceso, vão fazer muito mal ao PS» e a dizer que os contendores «devem ter a cabeça fria e pôr de lado ajustes de contas que não levam a lado nenhum». O que não parece nada fácil de conseguir neste PS à moda da Liga de Futebol.

Entretanto, Fernando Medina, sucessor designado por António Costa à coroa lisboeta, já veio esclarecer que «nós não podíamos ter evitado o problema da ruptura do financiamento» e que o PS tem que «assumir de frente o passado. José Sócrates não é fantasma nenhum – cometeu erros, mas fez coisas grandiosas».

Uma delas foi deixar o PS em eleições legislativas abaixo dos 30%, com 28,1% de votos. Outra foi deixar Portugal quase, quase na bancarrota, sem dinheiro para pagar as pensões ou os salários dos funcionários públicos. Uma coisa quase, quase grandiosa – na óptica dos apaniguados de António Costa, claro. Teme-se o pior.

jal@sol.pt