Não sei onde foi buscar essa ideia, bastante difundida aliás, de que o castro laboreiro é um cão muito perigoso. Lembro-me de, miúdo, ele me levar a passear até ao planalto ou à vila castreja e do receio que esses enormes mastins escuros infundiam quando com eles nos cruzávamos – não era para menos, dado o tamanho e a robustez do seu corpo. Mas daí a concluir que é raça perigosa ou agressiva, vai um remate demasiado apressado! Pelo contrário, tanto quanto sei, são perros de uma docilidade extrema, sempre disponíveis para os donos.
Para lho provar, apresentei-lhe a minha jovem cadelita, ainda com os movimentos abrutalhados pela tenrura da idade, que logo lhe fez uma grande festa… Mas não sei se fui suficientemente convincente acerca da docilidade dos castro laboreiros, porque isto passou-se há quase três anos e ainda hoje ele me previne sobre a perigosidade da raça e me pergunta se a cadela continua meiga!
O castro laboreiro é um cão de gado originário da freguesia do mesmo nome, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, no concelho de Melgaço, e o seu estado de conservação, segundo os critérios das Nações Unidas, tem actualmente o estatuto ‘em perigo’.
O seu território de origem é uma região montanhosa e planáltica muito agreste, com altitudes médias acima dos 1000m, frequentemente batida pelas chuvas e pela neve, que até meados do século passado comunicava com o exterior apenas por trilhos serranos, a pé ou de burro – e ainda hoje os invernos são de completo isolamento, quando o planalto se enche de neve semanas a fio…
Terá sido esta incomunicabilidade a permitir o aprumo e a diferenciação da raça, a única especificamente minhota, que teve o seu estalão redigido pela primeira vez apenas em 1935. E já nessa altura foi descrito como companheiro leal e dócil para quem com ele mais priva, de índole nobre e altruísta, sentinela ideal pela vigilância constante que exerce sobre os pontos confiados à sua guarda e guardião de rebanhos por tradição e excelência.
São, aliás, lendárias as suas investidas contra o lobo, que persegue incansavelmente, e a forma como, dada a sua agilidade e potência, facilmente anula os seus ataques. Mas é também um óptimo cão de companhia, pachorrento e afectuoso, com grande inteligência e um extraordinário instinto protector.
A minha castro laboreiro, à falta de rebanho para tomar conta, dedica-se a guardar os meus dois gatos. E cumpre a função na perfeição, distinguindo os gatos amigos daqueles que vêm apenas para semear sarilhos com os da casa, e a esses não os deixa sequer aproximar, ladrando-lhes com aquele ladrar profundo e grave que os leva a desertarem imediatamente das proximidades.
E são estes os poucos momentos em que ladra, a afastar um perigo indesejável. Os outros momentos são ao nascer do Sol, mas é um ladrar diferente, afectuoso, como que a saudar a chegada do Sol. E é mesmo este que ela saúda – pois, quando a manhã está chuvosa ou demasiado enevoada, não se lhe ouve latido!