“(…) há qualquer coisa de inexprimível, de inexplicável na poesia de Sophia Andresen. De tal maneira a sua poesia é autêntica, liberta de atitudes mentais ou de sentimentalismos vulgares, que é dolorosamente pessoal. É verdadeiramente a expressão de um ser. (…) A sua sensibilidade raríssima, unida ao poder maravilhoso de ver e se tornar irmã da beleza das imagens, a possibilidade de se exprimir sem ordenação mental, fazem da sua poesia uma revelação anímica, um descobrimento íntimo, uma dolorosa e rara tentativa de consciencialização”.
Francisco Sousa Tavares
Acção n.º 189, 1944
Imperativa e emocionalmente vibrante
“Assim escreveu Sophia: 'recomeço sem cessar a partir da página em branco/ E este é o meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo'. A sua obra afirma o poema como objecto verbal denso, construção e ofício da linguagem. Com léxico preciso e frase austera, imperativa mesmo se emocionalmente vibrante, em Sophia a aliança entre a estética e a ética implica um combate incessante contra os 'capitalistas da palavra'. 'Contra o abutre e a cobra/ o porco e o milhafre', a sua obra, em prosa e verso, vem falar-nos 'De um país liberto/ De uma vida limpa/ De um tempo justo'. Numa linguagem geométrica, que reenvia a Cesário e Reis, Horácio e João Cabral, a clareza da sua dicção é necessária a este tempo escuro. Que a sua entrada no Panteão não signifique silenciamento do que verdadeiramente importa: a leitura dos seus livros”.
António Carlos Cortez
Poeta e crítico literário
A integridade primitiva do real
“A relação de Sophia (…) com o mar é vasta e profunda, nela se radica a busca de uma linguagem que visa recuperar a potência elementar das coisas e do momento em que, sendo nomeadas, elas projectam a sua essência para o exterior de si, começando plenamente a sua existência. A proximidade do mar, em Sophia, funciona como instrumento de renovação desse momento genesíaco que nos restitui a integridade primitiva do real”.
Federico Bertolazzi
Professor universitário e tradutor, Actas do Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner Andresen, Porto Editora, 2013
Positividade original
“Há poucos itinerários poéticos em língua portuguesa tão impregnados de positividade original, tão de raiz, canto ao rés de uma realidade aceite como esplendor efémero e eterno e por isso tão isentos de polemismo e intrínseca negatividade, como o de Sophia de Mello Breyner”.
Eduardo Lourenço
Ensaísta
'Para um retrato de Sophia', 1985
O pássaro Sophia
“A Sophia era poesia ela própria, na sua pessoa. Era bela para além da aparência, como a sua elegância que residia nos gestos, na coragem que demonstrou. A Sophia olhava para o mundo e as suas observações eram sempre pertinentes mas irrompiam pela conversa adentro com uma profunda invenção poética. A famosa distracção da Sophia era uma forma de liberdade. A Sophia era um pássaro”.
Pierre Léglise-Costa
Ensaísta e tradutor