Memorial da I Guerra online

Através de um simples clique é possível descobrir o que viveram os militares portugueses na Grande Guerra, entre 1914 e 1918, e como morreram 7.760 desses homens. Num projecto inédito, o Arquivo Histórico Militar (AHM), colocou online toda a informação sobre os combatentes nacionais que perderam a vida no teatro de operações na Europa e…

Memorial da I Guerra online

Chama-se Memorial Virtual, está acessível ao público desde 8 de Abril (www.memorialvirtual.defesa.pt) e revela a história dos homens que Portugal mobilizou para a I Guerra: 56 mil para França, 30 mil para Moçambique e mais de 18 mil para Angola.

“É uma forma de homenagear os que morreram sacrificando-se pelo país”, explicou ao SOL o director do AHP, Coronel Carvalho Pires, adiantando que este Memorial vem ainda responder a um apelo que a instituição registava nos últimos tempos: “Recebíamos diariamente pedidos de autarquias, escolas e famílias que queriam saber informações sobre os portugueses mortos na Guerra”.

O projecto é uma das iniciativas lançadas para assinalar os 100 anos da Grande Guerra – lideradas pela Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da Primeira Grande Guerra, nomeada pelo Ministério da Defesa.

2.200 mortos em Moçambique

No Memorial estão já os dados de  5.500 portugueses mortos. “Os que faltam são essencialmente militares que estiveram em África”, informa Carvalho Pires, esclarecendo que, para descobrir informação sobre eles, estão dois profissionais do AHM destacados no Arquivo Histórico Ultramarino.

Além da pesquisa de nomes, a plataforma online disponibiliza a história daqueles anos de conflito armado – desde a acção do Governo português até ao quotidiano dos militares, passando pelos campos de batalha, os cemitérios e os monumentos que relatam a história dos portugueses envolvidos.

Para encontrar algum militar não é preciso saber muito sobre ele: a pesquisa pode ser feita pelo nome, mas também pela naturalidade, pelo posto, pela unidade, pelo ramo das Forças Armadas e pela zona de teatro de operações.

Segundo o Memorial, foi em Moçambique que Portugal perdeu mais homens (2.240). Segue-se França (1.940) e Angola (517). No mar, morreram 41 militares e em terras portuguesas outros seis.

 “Em África muitos morreram por doenças, resultado das más condições sanitárias. Já em França morreram mais em combate”, explica o coronel.

Dos 7.760 portugueses que perderam a vida na I Guerra, a quase totalidade pertencia ao Exército. Só cerca de 200 eram da Marinha e dois de aeronáutica militar (na época ainda não existia o ramo da Força Aérea) – sendo eles Óscar Monteiro Torres e Jorge Gorgulho. Este, segundo o Memorial, morreu de acidente a 8 de Setembro de 1917 e foi sepultado em Moçambique, no Cemitério de Mocímboa da Praia Já Monteiro Torres faleceu em combate, a 20 de Novembro de 1917, encontrando-se o seu corpo num jazigo particular no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

“Quanto aos da Marinha é mais difícil ter as sepulturas, pois muitos morreram no mar”, refere o director do AHM. Quanto aos do Exército que faleceram em África, também é complicado ter imagem das campas, por muitos “cemitérios terem sido destruídos”.

Mas os que lutaram em França, integrando o Corpo Expedicionário Português (CEO), têm quase todos fotografias das sepulturas, a maioria em Richebourg l'Avoué, em França, um cemitério exclusivamente português, criado para reunir os mortos espalhados por França, Bélgica e Alemanha.

“Uma equipa de militares que está na Bélgica deslocou-se a l'Avoué e tirou fotos a cada uma das 1.831 sepulturas que lá estão, para pôr no Memorial”, conta o director do AHM.

No Memorial, é ainda possível ver o documento com a ficha individual dos militares do Exército, cujo original está digitalizado. Isso é possível porque o AHM tem em curso um outro projecto, de digitalização e descrição dos documentos dos 75 mil portugueses do CEP.

Feito em dois meses

“Já temos, no site do AHM, 40 mil nomes disponíveis, mas o objectivo é ter todos” – garante Carvalho Pires, recordando que o Memorial (assim como a digitalização das fichas) foi feito em dois meses, com uma equipa de seis funcionários do AHM, aos quais se juntaram durante algum tempo 10 militares de outras unidades.

“É um trabalho enorme. O digitalizador trabalha oito horas por dia”, conta Carvalho Pires, revelando que já tem tido provas de que a tarefa vale a pena. Não só porque se conseguiu “prestar homenagem aos que morreram”, como permitiu que houvesse pessoas a descobrir o paradeiro de familiares. É o caso de uma senhora de Palmela que não sabia do bisavô. Consultando o Memorial, descobriu que o familiar, o soldado Pedro da Costa Frescata, morreu a 14 de Março de 1918 e está no talhão A, fila 2, coval 23 do cemitério Richebourg l'Avoué.

catarina.guerreiro@sol.pt