Ainda querem trocar Paulo Bento por Scolari?

Não foram poucos os adeptos portugueses de futebol que, após a medíocre participação de Portugal neste Mundial do Brasil, exigiram a cabeça do seleccionador nacional, Paulo Bento. Como primeiro responsável pelo descalabro e também, claro, como alguém a quem é fácil atribuir as culpas para aliviar a frustração colectiva. E, confrontados com a necessidade de…

Agora, após o massacre alemão dos 7-1 que vergou o Brasil de Scolari à pior derrota da história da sua selecção, é caso para perguntar a esses desiludidos adeptos portugueses: ainda querem trocar Bento por Scolari? Provavelmente, já não querem.

Mas o que ressalta desta hecatombe do Brasil e da crucificação de Scolari que já por aí corre – tal como da eliminação de Portugal e da desqualificação de Bento – é a ingratidão colectiva e a primária fúria vingativa das massas de adeptos.

Que esquecem que Scolari foi campeão do mundo com o Brasil em 2002. E, já agora, que levou Portugal a uma final do Euro e à meia-final do Mundial-2006. Tal como são capazes de denegrir agora impiedosamente Del Bosque pela triste carreira da Espanha, passando uma esponja sobre os títulos espanhóis no Mundial de há quatro anos e no Euro de há dois anos que o mesmo Del Bosque conquistou, então sob os foguetes e os elogios de todos os quadrantes. Muitos desses implacáveis juízes e adeptos são os mesmos que exigiram a demissão de Jorge Jesus do Benfica há pouco mais de um ano, quando perdeu todos os títulos no final da época ou quando encaixou 5-0 do FC Porto, e que saíram em Maio às ruas e ao Marquês de Pombal a levá-lo em ombros.

São, igualmente, muitos desses que omitem a meia-final do Euro-2012 a que Paulo Bento conduziu Portugal para, agora, o desancarem com a maior das facilidades.

É fácil – e, quase sempre, básico – arranjar bodes expiatórios para ultrapassar traumas e frustrações. Mas, em geral, as razões de fundo são outras e mais complexas. Um treinador ou um seleccionador não pode ser julgado com base num único desafio ou numa prova menos conseguida – em particular, se já tem suficientes êxitos e títulos na sua carreira.

Não será mais lógico admitir que está em óbvio final de ciclo uma geração de sucesso em Espanha (a dos Xavi e Iniesta) do que atirar com as culpas para cima de Del Bosque? Ou aceitar que faltam opções de indiscutível qualidade na actual base de recrutamento da Selecção do Brasil em vez de achincalhar Scolari? Ou que a Selecção de Portugal, sem Cristiano Ronaldo ou com este em subrendimento, é uma equipa mediana e pouco competitiva com Paulo Bento ou qualquer outro seleccionador?

Pelos vistos, não. É mais cómodo crucificar Scolari… Ou colocar Paulo Bento no pelourinho. 

jal@sol.pt