O que quer isso dizer? Além da zona de negócio propriamente dita, com as 35 galerias internacionais de “grande prestígio”, a direcção da Est Art Fair apostou em dividir os 4.500m2 do recinto, dando espaço igual a uma zona chamada curatorial onde está alojada a exposição 'Desenhar o Mundo/Drawing the World'; os Solo Projects, onde foram convidados artistas a apresentar projectos específicos, um conjunto de quatro debates (Art Talks) e uma secção dedicada a livros de artistas. “Queremos valorizar a feira como um ponto de encontro”, explica Luís Mergulhão.
Além de apostar neste lado menos comercial, esta primeira feira internacional optou, segundo Luís Mergulhão, por uma dimensão menor do que a das grandes feiras, como a Arco Madrid, nos gigantescos pavilhões da Ifema, de onde o visitante sai extenuado. “As feiras estão tendencialmente a tornar-se mais pequenas”, sustenta. E o Centro de Congressos do Estoril foi a primeira opção, tendo o tamanho justo. Além do mais, explica, “o Estoril está numa linha contígua a Lisboa. Para um estrangeiro que nos visite, é um sítio com um enorme apelo”. O Centro de Congressos foi cedido pela Câmara de Cascais. “Mas de resto, optámos por não pedir apoios institucionais. A ideia é que no futuro possa haver apoios de entidades ligadas não só às artes como ao sector económico”. Pormenor adicional, a Est Art Fair fecha a temporada das feiras internacionais. É a última, já em pleno Verão.
Para já, afirma Luís Mergulhão, a pujança da capacidade de mobilização dos agentes portugueses ficou provada “com a adesão espontânea de grandes galerias internacionais que foram convidadas e que aceitaram estar presentes”. É que em vez de um convite geral dirigido a todas as galerias, foi criado um comité internacional de selecção que escolheu a dedo quem queria que estivesse no Estoril. Barbara Thumm (Berlim), Eduardo Brandão (São Paulo), Pedro Maisterra (Espanha) Pedro Oliveira (Porto) e Vera Cortês (Lisboa) são os elementos desse comité. E entre as galerias presentes contam-se as reputadas Air de Paris (França), Jacqueline Martins (São Paulo), Kurimanzutto (Cidade do México) e a Malborough Contemporary (Londres).
Lissitsky como modelo
A Est Art Fair é um evento que mistura uma feira e uma exposição com dois grupos que trabalharam de forma distinta. O grupo curatorial, dirigido por Delfim Sardo, inclui a portuguesa Filipa Oliveira e o brasileiro Moacir dos Anjos. E também este grupo fez uma escolha muito precisa. Para os Solo Projects, foram convidados nove artistas que vieram representados pelas suas galerias. A proposta foi a de cada artista apresentar o seu projecto “a partir de um clássico da arte do século XX, a intervenção de Lazar Lissitzky, apresentada em 1923 em Berlim, e ocupando o espaço preciso de 3,46 m de largura por 3,20 de altura”, explica Delfim Sardo, acrescentando que “a adesão das galerias foi imediata, só duas não conseguiram vir por motivos de agenda”.
Na exposição 'Drawing the World', a peça de Lawrence Weiner apresentada na Bienal de Veneza do ano passado está colocada à entrada da feira. E entre as várias obras, conta-se “as seis peças de Gordon Matta-Clark, sobre papel recortado, e que são uma referência no último quartel do século XX”, diz Delfim Sardo. Encarando o desenho num sentido amplo, a exposição inclui uma obra de 1979 de Helena Almeida que é o som de um lápis a desenhar, ou a peça de Dennis Oppenheim, nada mais que um vídeo do filho dele a tentar reproduzir numa parede o desenho que ele lhe está a fazer nas costas.
O desenho surgiu como tema da primeira edição, “porque a prática do desenho é uma espécie de zona íntima dos artistas. A adesão das galerias e das entidades emprestadoras das obras fez-nos perceber que, de facto, é um tema importante na arte contemporânea, mas tem sido pouco explorado”, explica.
As Art Talks versam igualmente a temática do desenho e são acessíveis a todos os visitantes.