Graças à escolha errada do (mais recente) génio argentino, a Alemanha aproveitou e sagrou-se campeã do mundo. O capitão Philipp Lahm, um defesa sem a arte de Messi mas com espírito, imitou o vencedor Brehme da final de 1990 e não o derrotado Rummenigge de 1986. E deu-se bem. Foi ele a fazer o que Matthäus fez a receber a taça, agora das mãos de Dilma.
Renovado, um dos maiores e mais venerados palcos do futebol – o Maracanã – vestiu-se de novo para coroar um campeão velho: os alemães conquistaram o quarto título, igualaram a Itália e estão a um do Brasil.
A quarta estrela estava escrita nas estrelas
Os três países que têm quatro ou mais estrelas (cada uma significa a conquista de um Mundial) demoraram 24 anos a vencer a quarta. Brasil (1970-1994), Itália (1982-2006) e, agora, Alemanha (1990-2014).
A Europa ganhou na América. É inédito. Como inédito é um continente (Europa) vencer três edições consecutivas de um Mundial (2006-2010-2014). Puyol, capitão e símbolo da campeã Espanha, foi ao relvado antes do jogo com o troféu. entregou-o. Goetze fez de Iniesta – ambos marcaram na final e venceram por 1-0.
Começou o reinado da Alemanha
O jogo tem uma leitura rápida, mais lento deverá ser o reinado da Alemanha, que mostrou um poderio sobre os adversários raramente visto. Além do 4-0 a Portugal e do 7-1 ao anfitrião Brasil, na final foi forte até ao fim. E voltou aos títulos, que fugiam desde o Euro-96.
A bola começou em Shakira na festa de encerramento que antecedeu a partida, passou pelos pés de Higuaín – o argentino que falhou escandalosamente isolado -, passeou no pé esquerdo de Messi (que fez o que raramente faz: falhar), foi da testa de Howedes ao poste. O poste da baliza argentina apenas adiou o sonho alemão por uns minutos. No prolongamento apareceu Goetze. E o alemão marcou um belo golo.
Saiu do banco para resolver uma final de um Mundial. E acabou com a série de imbatibilidade de Romero (485 minutos sem sofrer um golo), a terceira melhor de sempre na história dos Mundiais.
Melhor só Zenga (517), Shilton (499) e Casillas (476). O alemão Maier (474) foi ultrapassado.
Farto de comer ‘mierda’
Mas para o guarda-redes argentino, ultrapassar este alemão não chegou. A Argentina perdeu. E Mascherano, que tinha dito aos seus companheiros no jogo dos quartos-de-final que tinham de ganhar porque já estava farto de comer ‘mierda’, vai continuar uns tempos sem ganhar nada com a camisola albiceleste.
A ‘playa’ de Copacabana que se encheu com 100 mil argentinos, esvaziou de esperança quando o árbitro mais vaidoso da história de uma final apitou para o final. E aí, o primeiro sorriso de Merkel e de Loew.
Mesmo com a derrota, a FIFA deu o troféu de melhor jogador a Messi. Pela quinta vez seguida, ganha este troféu quem não é campeão: Ronaldo, Kahn, Zidane, Forlán e Messi.
Para James, considerado um dos melhores deste Mundial, o consolo de sair como o melhor marcador – com seis golos. Sucede à lista de 2010 com Forlán, Müller, Sneijder e Villa.
Neuer foi considerado o melhor guarda-redes. Recebeu esse troféu, mas estava de olho no outro. Naquele mesmo troféu que passou pelas mãos de Rahn (no milagre de 1954), Beckenbauer (quando a RFA destruiu a Holanda mecânica em 1974) e Matthäus (quando tirou a coroa a Maradona em 1990).
Estádio Mracanã, Rio de Janeiro.
Alemanha-Argentina, 0-0 (1-0 após prolongamento)
SOL