Jaime Nina, infeciologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), disse à agência Lusa que "Portugal tem uma estrutura razoavelmente boa", lembrando que existe um plano de resposta há mais de dez anos.
Esse plano define o que se faz nas urgências, quais os critérios para definir um caso suspeito, se esse caso tem suspeitas consistentes ou quais os serviços para isolamento.
No caso de Lisboa, adiantou, o hospital de referência é o Curry Cabral e o Egas Moniz, no caso do pior dos cenários esgotar a capacidade do primeiro.
O laboratório de referência é o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o qual fez até ao momento uma análise para despiste de caso suspeito, que se veio a revelar negativo, segundo disse à Lusa fonte do instituto.
Apesar de reconhecer a organização que Portugal dispõe, Jaime Nina faz uma ressalva: "No papel as coisas estão muito organizadas, mas se o doente aparecer nas urgências só com febre, tem 99 por cento de probabilidades de passar por baixo do radar".
Isto não acontecerá, contudo, se o doente apresentar manifestações hemorrágicas ou se disser que veio de um país onde existem surtos do vírus.
Pelo meio, disse, "há sempre o risco do doente passar horas numa sala de espera do serviço de urgência".
Jaime Nina sublinhou que este surto é "um bocadinho diferente" dos outros por vários motivos, como ter sido registado numa zona onde nunca houve casos, pela quantidade de infectados e pelo número de países afectados.
"O Ébola tinha andado, até agora, na África central (Congo Kinshasa, Congo Brazzaville, Camarões, Gabão, Uganda, etc)", disse.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram notificados 844 casos, dos quais 518 resultaram em morte (taxa de letalidade de 61 por cento).
Os casos foram detectados na Guiné-Conacri (407 casos, dos quais 307 acabaram em morte), na Libéria (131 casos, 84 mortos) e Serra Leoa (305 casos, com 127 mortos).
Para Jaime Nina, o que assusta as autoridades é não verem "uma luz ao fundo do túnel", numa referência aos países afectados estarem na lista dos mais pobres do mundo e com conflitos armados em curso.
Sendo o sangue o meio mais comum de transmissão do vírus, já que o Ébola não tem tratamento específico, os doentes podem, contudo, ser tratados: "Se está desidratado, hidratar, se está com diarreia, tentar controlar a diarreia, se está com falta de ar, dar oxigénio, se está com hemorragias graves, dar transfusões".
"O objectivo é manter o doente vivo. Se o doente não morrer, sobrevive [à doença]".
Lusa/SOL