A situação, agravada pelo facto de entretanto estar a ser preparado um novo fardamento para substituir progressivamente o antigo, está a levar os quase 23 mil agentes desta força de segurança a procurarem resposta nas muitas empresas que confeccionam fardas civis. Mas enquanto alguns oficiais fecham os olhos, outros há que sujeitam os agentes a processos disciplinares, como tem sucedido no comando de Lisboa.
Na maior parte dos depósitos de fardamento da PSP, que não esteve disponível para prestar esclarecimentos, “não existem uniformes disponíveis", disse ao SOL uma fonte da instituição. Há polícias que esperam meses por camisas, calças, blusões ou sapatos, e outros “usam fardas com vários anos, com calças remendadas muitas vezes".
Um número elevado de peças (de Verão e de Inverno), a introdução de novas fardas e a necessidade de esgotar as antigas estão a obrigar os polícias a recorrerem a empresas privadas porque “os depósitos da PSP não têm stocks". Com apenas três peças de fardamento distribuídas por ano, os agentes, “para desempenharem as suas funções profissionais minimamente apresentáveis – até porque são fardas de trabalho com desgaste rápido devido à frequente utilização – acabam por se socorrer do 'mercado paralelo'", afirma Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado de Polícia.
Empresas não cumprem especificações
Os agentes relatam que há empresas de uniformes que praticam preços bem mais acessíveis do que os da Polícia e que muitas vezes fazem negócio nas próprias esquadras, onde deixam folhetos e cartões. Entre as peças mais procuradas estão calças, bonés e polos.
A verdade é que “este mercado de rua não cumpre algumas das especificações e os uniformes acabam por apresentar ligeiras diferenças", salienta Peixoto Rodrigues.
Quando os agentes se apresentam ao serviço com uniformes ligeiramente diferentes, acabam por ser “alvo de processos disciplinares, que muitas vezes terminam em punição (de simples repreensão à aplicação de multas que se traduzem em dias sem salário)".
Entre os comandos com maior número de processos por má uniformização está o de Lisboa onde, em 2007, o presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, foi alvo de um processo disciplinar por se apresentar a uma junta médica sem o exigido uniforme de cerimónia.
A situação tornou-se entretanto mais crítica com a implementação do novo fardamento, pois os depósitos deixaram de fazer encomendas – tal como foi anunciado pelo ministro da Administração Interna, na apresentação do novo fardamento. Miguel Macedo disse que a PSP iria “esgotar as fardas antigas" antes de distribuir as novas a todos os agentes, um processo que ficará concluído em 2018.