‘Governo finge que acredita que preços dos combustíveis vão baixar’

António Comprido, secretário-geral da APETRO, garante que as empresas não têm margem para reduzir os preços dos combustíveis.

O preço dos combustíveis é sempre um assunto muito sensível. Os consumidores queixam-se dos preços e as petrolíferas das poucas margens de lucro. Não é possível baixar os preços?

Por cada litro vendido de combustível, entre 50 a 60% é para impostos (ISP e IVA). A isto acrescem os cerca de 30% do preço do produto à saída da refinaria. E sobra uma margem de 10% para pagar toda a cadeia de valor. No fundo, isto traduz-se numa margem de cerca de 12 ou 15 cêntimos. É um bocado ilusão pensar que se consegue reduzir o preço dos combustíveis mexendo na sua fatia mais pequena.

Existe concorrência no sector?

Há imensa concorrência. E a prova disso é que temos vários tipos de operadores no mercado: hipermercados, marcas tradicionais e postos independentes.

A introdução de algumas medidas do Governo no sector não segue a mesma linha de entendimento…

Fico muito desgostoso com certas afirmações dos nossos políticos. E sendo brando nas minhas apreciações, diria que ou são mal informadas ou são demagógicas. Se o Governo não acredita que o mercado funciona, deve regulá-lo e ter coragem política para acabar com o mercado liberalizado. Agora, estar constantemente com medidas de intervenção neste mercado é uma situação híbrida que não interessa a ninguém. Não dá segurança aos agentes económicos, não dá confiança aos consumidores e só prejudica o funcionamento do mercado.

Como avalia a lei dos low cost?

É um equívoco completo, a começar pelo conceito: low cost significa um modelo de negócio, não um produto. E é uma medida injusta porque atinge apenas alguns estabelecimentos. Não vai impor obrigações aos hipermercados ou aos postos brancos. E para o consumidor é irrelevante, porque vai é subir os preços devido ao aumento dos custos das operadoras.

Mas o Governo acredita que vai levar à descida dos preços.

Não sei se acredita ou finge que acredita. Ou quer passar para a opinião pública que acredita…

Quanto é que esta medida vai custar ao sector?

Não sabemos exactamente quantos postos vão ser afectados e como é que vão ser afectados. Portanto, ainda não existem cálculos. Além disso, faltam elementos como o preço de referência, que não sabemos muito bem como vai ser calculado e que é essencial para que a lei funcione. 

sara.ribeiro@sol.pt