Editor destaca “criatividade e originalidade” de João Ubaldo Ribeiro

João Ubaldo Ribeiro, que morreu hoje no Rio de Janeiro, aos 73 anos, foi um escritor “de muita criatividade e originalidade”, que era lido de “uma forma apaixonada”, disse à Lusa o editor livreiro Nelson de Matos.

Nelson de Matos publicou algumas obras do autor brasileiro, designadamente "A Casa dos budas ditosos" e "Viva o povo Brasileiro", tanto como editor das Publicações Dom Quixote, quer na sua nova chancela, em nome próprio.

Em declarações à Lusa, Nelson de Matos afirmou que o escritor "não deixa escola, [pois] o seu trabalho era de muita criatividade e originalidade e, portanto, difícil de ter continuação".

"Era um escritor que inventava língua, inventava linguagem e todos os seus livros criam palavras novas e na língua portuguesa ficou como original", disse.

Da obra de Ubaldo Ribeiro, Nélson de Matos destacou "Viva o Povo Brasileiro", que "foi o livro que o tornou mais conhecido, até fora do Brasil", e "Sargento Getúlio", que é uma obra de "grande complexidade linguística em que ele vai reproduzindo falas populares, criando com isso uma linguagem não convencional, e o livro é feito sobre essa estrutura e com palavras que ele inventa e introduz no dicionário".

Nelson de Matos, amigo do escritor, afirmou que a notícia da morte de Ubaldo Ribeiro ecoou como "uma brutalidade, até porque apesar de ele ter uma saúde frágil, estava agora bem".

"Curiosamente, na semana passada tinha recebido um 'email' dele, preocupado com a minha saúde", contou o editor, visivelmente emocionado.

Em Portugal estão editadas as obras "A Casa dos Budas Ditosos", "Viva o Povo Brasileiro", "Sargento Getúlio", "O Albatroz Azul", "Miséria e Grandeza do Amor de Benedita", "Diário do farol", "O Feitiço da Ilha Pavão" e "O Sorriso do Lagarto".

João Ubaldo Ribeiro foi o oitavo escritor brasileiro a ser distinguido com o Prémio Camões, que recebeu em 2008.

Nasceu na ilha de Itaparica, no Estado da Bahia, a 23 de Janeiro de 1941 e, entre os seus livros, estão "Setembro não faz sentido", "O Sorriso do lagarto" e "A Casa dos Budas Ditosos".

Recebeu por duas vezes o Prémio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro: em 1972, de Melhor Autor, por "Sargento Getúlio", e, em 1984, de Melhor Romance, por "Viva o povo brasileiro".

O escritor viveu em Lisboa em 1981, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e, ao longo da sua carreira, recebeu vários prémios e teve algumas obras adaptadas para televisão.

Iniciou a sua vida profissional como jornalista no Jornal da Bahia, em 1957, e no ano seguinte editou revistas e jornais culturais, tendo dado os primeiros passos na literatura com a participação na antologia Panorama do Conto Bahiano, organizada por Nelson de Araújo e Vasconcelos Maia, com "Lugar e Circunstância".

E Portugal, colaborou com o antigo semanário "O Jornal" e com publicações do grupo como o Jornal de Letras Artes e Ideias (JL) e o antigo semanário Se7e.

O escritor foi responsável pela adaptação cinematográfica do romance de Jorge Amado "Tieta do Agreste", realizada por Cacá Diegues e protagonizada por Sónia Braga.

Lusa/SOL