Mal se entra na turma do pré-escolar do Grémio de Instrução Liberal de Campo de Ourique, percebe-se que estamos a falar com especialistas na matéria. Diogo, de cinco anos, exibe orgulhosamente as oito pulseiras que tem no braço, e garante: “Tenho muitas mais lá em casa”. E não é o único com estes adornos. Matilde, da mesma idade, tem 12: “Vi uns vídeos na internet e a minha mãe ajudou-me. Sei fazer pulseiras com dedos, com uma mola e com garfos”.
Estes elásticos parecem não ter segredos para esta turma de cerca de 20 alunos, com idades entre os cinco e os seis anos. Há quem tenha aprendido este ofício com os colegas na escola, mas a maioria deve o conhecimento aos familiares. “Fazer pulseiras é muito profissional”, garante Nor, de cinco anos, cuja arte lhe foi ensinada por uma prima de dez anos.
E não é uma moda só de raparigas. Afonso, de cinco anos, olha concentradamente para os dois elásticos presos horizontalmente entre o dedo indicador e o dedo do meio, enquanto passa um por cima do outro. Partilha a sua caixa com os mais variados elásticos com André, que ajuda quando o amigo não consegue fazer: “Acho que isso está mal, André, tens de tirar esse elástico e pôr por cima”, explica Afonso.
A 'mentora' desta arte na turma é Bárbara. Esta especialista tem um fio de dez metros, feito só de pulseiras, que usa como corda de saltar e ensinou a muitos dos colegas, que ainda recorrem à sua sabedoria quando têm dúvidas. “A parte mais difícil é o remate”, refere. Numa das divisórias da enorme caixa onde guarda os elásticos há nove moedas de um euro, resultado das vendas dos seus trabalhos manuais.
Existem vários tipos de pulseiras: desde as mais básicas, que envolvem um número reduzido de elásticos e técnicas mais simples, às mais complicadas como as triplas, as zippers, as entrançadas, as pulseiras em estrelas, entre outras. Para estas é necessário uma “máquina”, isto é, uma tábua de plástico com vários pins ao longo dos seus 20 centímetros de altura e 5 de largura. Os elásticos são depois entrelaçados e organizados nas elevações com a ajuda de uma agulha própria.
Segundo o New York Times, esta máquina, a que chamam Rainbow Loom, foi inventada em 2010 pelo engenheiro malaio de origem chinesa Cheong Choon Ng, na tentativa de acompanhar as filhas que faziam pulseiras com elásticos. Com as suas mãos grossas, não conseguia fazê-las. Então, decidiu criar uma tábua de madeira com pins. Foi depois incentivado pela família a comercializar o produto. Apesar das dificuldades iniciais em vendê-lo, quatro anos depois há kits do Rainbow Loom – que incluem uma máquina, elásticos e agulhas – à venda em lojas de todo o mundo.
Mas Francisca Veloso, Maria Inês Alves, Vera Ribeiro e Inês Simões optam por comprar os seus elásticos nas lojas do chinês, onde custam entre 50 e 90 cêntimos, com várias cores, formatos e cheiros. “Cada pacote vem com 200/300 elásticos”, explica Inês Simões, de dez anos. “Um pacote dá para cerca de seis pulseiras e só conseguimos fazer uma ou duas das mais complicadas”, explica Vera Ribeiro, da mesma idade, que ofereceu à mãe um fio de pendurar os óculos que demorou dois dias a fazer.
Para as quatro amigas, esta moda começou no mês de Abril e desde então já perderam a conta ao numero de bijutarias que fizeram. Quando têm dúvidas, recorrem aos vários vídeos de tutoriais que há no YouTube. Ainda assim, garantem não dedicar muitas horas ao ofício: “Quando já estou farta de ver televisão, faço pulseiras. Acaba por ser um vício, porque depois não queremos parar”, afirma Maria Inês, de 11 anos.
Com a chegada do Verão, estão a pensar vender as suas pulseiras na praia ainda que já tenham vendido a alguns amigos dos pais. “Já vendi uma pulseira a uma hospedeira a 1 euro. Quando fui de férias, eu e a minha irmã estávamos a fazer pulseiras no avião e a hospedeira perguntou se nós estávamos a vender”, recorda Francisca, de 11 anos.
Quem também faz negócio com estes adornos são as filhas de Sandra Bastos. “As minhas filhas ofereceram uma pulseira à vizinha que trabalha numa creche. As colegas viram e como são as mais complicadas, que muitos não conseguem fazer, começaram a receber encomendas”, explica, acrescentando que também participa na sua manufactura.
Desde as férias da Páscoa, as filhas já fizeram 34 euros tornando-se numa brincadeira relativamente rentável. “No mês passado gastei cerca de 20 euros só em elásticos mas compensou com o dinheiro que elas fizeram. Acredito que para alguns pais seja uma brincadeira que saia cara”.
Para esta mãe, esta moda é bastante positiva porque estimula as crianças: “Tem toda uma lógica e obriga-as a pensar. É melhor do que estarem em frente à televisão ou brincar com a [consola] Wii”.
Sandra anda com estes adereços no pulso e já não é a primeira vez que a abordam na rua para lhes explicarem como se fazem determinadas pulseiras. O marido também leva para o emprego as pulseiras que as filhas fazem especialmente para ele: “Quando elas começaram a fazer pulseiras, o meu marido pediu para lhe fazerem uma com as cores do Sporting. Hoje em dia, anda diariamente com três e não tem qualquer problema com isso”.