A crise ucraniana em actualização permanente

Os últimos desenvolvimentos do conflito no leste da Ucrânia e as últimas informações sobre o abate do avião da Malaysia Airlines:

A crise ucraniana em actualização permanente

23 de Julho

Dois caças ucranianos são abatidos no leste do país. O Governo de Kiev afirma que os disparos partiram de território russo.

A Holanda, de luto nacional, recebe os restos mortais de dezenas de vítimas do abate do Boeing 777 da Malaysia Airlines numa cerimónia com o Rei Guilherme Alexandre e o primeiro-ministro Mark Rutte.

O primeiro-ministro australiano Tony Abbott teme que muitos dos corpos das vítimas nunca sejam repatriados e acabem por se decompor ao ar livre. O governante apela ao estabelecimento de um cordão de segurança por forças internacionais para permitir o trabalho dos técnicos forenses. Pelo menos 38 das vítimas eram australianas.

 

22 de Julho

Os serviços de inteligência norte-americanos revelam ter provas do envolvimento dos rebeldes pró-russos mas afastaram qualquer ligação directa entre a Rússia e o incidente, admitindo que o abate terá sido acidental.

Rebeldes entregam as caixas negras a investigadores malaios e declaram cessar-fogo na zona do desastre.

A Austrália acusa os rebeldes e a Rússia de interferências na investigação “a uma escala industrial”.

 

21 de Julho

A maioria dos corpos das vítimas da queda do avião da Malaysia Airlines é transportada por comboio do leste rebelde para a cidade ucraniana de Kharkiv.

O Rei Guilherme Alexandre da Holanda visita familiares das vítimas. Cerca de 180 dos passageiros do voo da Malaysia Airlines eram holandeses.

 

20 de Julho

O chefe da diplomacia norte-americana John Kerry acusa Moscovo de ter fornecido aos rebeldes o sistema míssil BUK que levou ao derrube do avião da Malaysia Airlines.

Reino Unido, França e Alemanha ameaçam a Rússia com sanções caso os rebeldes continuem a dificultar o acesso ao local do desastre.

 

19 de Julho

A Ucrânia acusa a Rússia de ajudar os separatistas a destruírem provas do envolvimento dos rebeldes no abate do avião da Malaysia Airlines.

Barack Obama afirma que o abate do avião civil é “um escândalo de proporções nunca vistas”.

 

18 de Julho

Os rebeldes descobrem as caixas negras do avião da Malaysia Airlines.

ONU ordena inquérito à queda da aeronave.

Vladimir Putin responsabiliza Kiev pela tragédia nos céus ucranianos.

Rússia e Ucrânia trocam tiros de artilharia ao longo da fronteira.

Pelo menos 22 pessoas terão morrido em confrontos no Leste, a maioria civis.

 

17 de Julho

Um Boeing 777 da Malaysia Airlines que ligava Amesterdão (Holanda) a Kuala Lumpur é abatido por um míssil terra-ar ao sobrevoar a região pró-russa de Donetsk, no leste da Ucrânia. Seguiam 289 pessoas a bordo e não há sobreviventes.

Rebeldes pró-russos anunciam e comentam o suposto abate de um avião militar ucraniano à mesma hora e na mesma área, indiciando que a queda do voo da Malaysia Airlines terá acontecido por erro dos combatentes.

O Governo de Kiev acusa os rebeldes e a Rússia de serem responsáveis pelo desastre.

A Eurocontrol encerra o espaço aéreo do leste da Ucrânia e todas as companhias aéreas passam a evitar sobrevoar o território.

Apesar de todo o choque, não é a primeira vez que um avião civil é abatido por militares. Nem sequer na Ucrânia.

 

A crise ucraniana até à queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines:

O contexto histórico

O conflito entre russos e ucranianos é histórico, como também são os seus laços. Os dois povos eslavos partilham Kiev como a sua primeira capital e o Principado de Kiev (séculos IX a XII) foi embrião dos dois actuais estados. No século XVII, os ucranianos revoltaram-se contra os dominadores polacos e iniciaram um processo de integração no Império Russo.

É sob o regime soviético que se dá um acontecimento histórico sobre o qual russos e ucranianos divergem até hoje. Entre 1932 e 1933, mais de sete milhões de ucranianos morreram de fome. A crise alimentar é atribuída pelos russos a causas naturais e às políticas económicas fracassadas de Estaline. Para os ucranianos, tratou-se de genocídio premeditado.

A independência da Ucrânia no início dos anos 90 deixou Kiev e Moscovo a braços com vários dossiês por resolver herdados do período soviético. A Crimeia, russa até 1954, tinha sido ‘dada’ por Krushchev a Kiev. Foi integrada na nova Ucrânia, apesar de ter população maioritariamente russa e uma base naval nas mãos de Moscovo. Kiev ficou também refém do abastecimento energético russo, ao início pago a preço de amigo e agora a preço de mercado. E a minoria russa da Ucrânia – maioritária a Leste – ficou num novo país que não sente ser o seu.

Moscovo ou Bruxelas?

A actual crise estala em Novembro de 2013 quando o então Governo pró-russo de Viktor Yanukovich suspende as negociações de associação à União Europeia e opta por reabilitar laços económicos e políticos com Moscovo (que oferece um generoso desconto no preço do gás), levando centenas de milhares de pessoas a protestar nas ruas.

Em Fevereiro de 2014, os protestos que se arrastam há meses tornam-se sangrentos. Pelo menos 77 pessoas morrem em confrontos. Yanukovich é derrubado e foge no dia 22. Rebeldes pró-russos tomam controlo da Crimeia, que em Março aprova a adesão à Federação Russa, logo ratificada em Moscovo por Vladimir Putin.

Em Abril, o foco da crise passa a ser o leste da Ucrânia. A região pró-russa de Donetsk declara independência. Começa um conflito armado entre as forças centrais e os rebeldes separatistas.

Em Maio, Petro Poroshenko é eleito Presidente da Ucrânia, mas a votação não reaviva qualquer negociação diplomática entre Kiev e Moscovo. Em Junho, 49 ucranianos morrem no abate de um avião militar no Leste.