Manuela Ferreira Leite e o BES acima das suas possibilidades

Sou insuspeito de simpatias com Manuela Ferreira Leite, porque achei que a sua competência governamental tinha ficado no tempo de secretária de Estado do Orçamento (quando os secretários de Estado do Governo de Cavaco eram uma espécie de funcionários públicos). Achei que falhou estrondosamente como ministra – tanto na Educação, como nas Finanças.

Suponho que ela própria o acha hoje também, porque critica na política das Finanças muito do que já fizera no Governo de Durão Barroso – com a constatação de que se tratava de um caminho errado para os objectivos pretendidos.

Mas gostei de a ouvir dizer, no comentário da TVI24 (raramente, ou nunca mesmo, vejo os comentários de políticos nas TVs, mas este teve muita repercussão), a propósito do GES e do BES, que “Afinal havia ali um grupo ao nosso lado importantíssimo que vivia acima das suas possibilidades”. Há muito que penso ter ficado provado (pelo menos, claramente, desde a crise internacional de 2008) terem sido os Bancos, e talvez alguns governos que apostavam no crédito fácil para pessoas, famílias e obras públicas desnecessárias, quem andou a viver acima das suas possibilidades, embora os governantes que temos prefiram acusar os contribuintes, e pô-los a pagar as facturas – enquanto os políticos mantêm todas as suas mordomias (realmente acima das possibilidades de toda a gente, porque não existem noutros países democráticos).

Quanto a Ricardo Salgado, já se sabe: a nossa opinião publicada um dia alinha toda contra ele, e no seguinte defende-o (pasmando com a fuga de antigos apoiantes), para se sucederem novos movimentos semelhantes. Sempre fomos assim.

Mas Manuela Ferreira Leite tem razão noutra coisa: foi preciso ele cair do seu Poder para a nossa Justiça o perseguir. Se não, ainda continuava a fazer as suas pilantrices, sem ninguém refilar.