Arquivado o processo que o iliba de qualquer crime, Gouveia diz que o que mais lhe custou foi ver os seus colegas “expostos”. “Sem estarem cá para se defenderem”, disse, numa entrevista publicada esta quinta-feira.
Desde aquela noite na praia do Meco, de 15 de Dezembro de 2013, que Gouveia não falava publicamente. Nesta quinta-feira, o estudante de Engenharia Informática diz ainda não perceber por que foi o único sobrevivente.
“Já falei com especialistas, uns disseram que [ter sobrevivido] foi por eu ter feito bodyboard, outros consideram que o facto de ter tentado salvar a Pocahontas [Carina Sanchez] fez com que a minha cabeça se libertasse do pânico de me salvar a mim (…) Estava praticamente a desistir, de repente fui puxado pelo mar”, relata.
Minutos antes estavam juntos, sentados à beira-mar.
“Estávamos todos sentados em género de meia lua, a conversar uns com os outros eu e o Tiago tínhamos acabado de nos levantar”, conta sobre os momentos que antecederam a onda que arrastou o grupo para o mar.
Estavam todos trajados. “Porque estava frio”. "Há quem defenda que ter conseguido libertar-me da capa foi decisivo. Não sei explicar. Com o turbilhão e com a cabeça, o corpo contra a areia, não sei…"
A única chamada que fez foi para o 112.
"Os agentes da Polícia Marítima devem ter chegado 20 ou 30 minutos depois. A mim pareceu-me mais, claro, estava a vomitar. (…) Quando me encontraram, expliquei-lhes que tínhamos sido arrastados e apontei-lhes onde tudo tinha acontecido”.
"Na prática, andei estes meses todos a explicar por que é que sobrevivi", desabafa.
Conta que recebeu ameaças nos dias seguintes ao acidente – ele a família. E foi aconselhado pela psicóloga a não ir à praia ou aos funerais dos amigos.
João Gouveia diz ainda que o fim-de-semana servia era preparar os eventos do COPA (organização das praxes).
A seguir ao acidente fechou-se em casa da irmã. E que foi buscar forças para limpar a imagem que a comunicação social estava a construir dos amigos tragados no Meco. “Eram pessoas sérias e responsáveis”.
SOL