"Para parar [o Ébola] tem que se actuar, agora, onde está a doença. E não é complicado: é apenas dar cuidados ao doente para ajudá-lo a sobreviver e detectar os infectados o quanto antes", defendeu, numa visita ao centro de tratamento de Ébola de Conacri.
O apelo é feito numa altura em que a organização não governamental (MSF) está exausta. "Atingimos o limite da nossa capacidade de resposta", salientou aquele responsável.
Apesar de a situação na Guiné-Conacri caminhar para uma "estabilização", o representante dos MSF pede "a todos os agentes, sejam eles nacionais, internacionais, governamentais ou não, para ajudarem", enviando reforços que permitam gerir a 100 por cento um centro de tratamento como o de Conacri, exemplificou.
Caso contrário, alertou, o vírus "poderá continuar a espalhar-se para outros países".
O centro de tratamento de Conacri está instalado no interior do Hospital de Donka, a principal unidade pública de saúde do país, visivelmente debilitada e precária, mas ainda assim a tentar dar resposta às necessidades de saúde.
No interior, um terreno aberto onde já funcionou um centro de tratamento de Cólera foi adaptado pelos Médicos sem Fronteiras.
É como um hospital de campanha, com dezenas de tendas, devidamente delimitado e guardado por pessoal interno.
Na zona de baixo risco estão os espaços destinados à logística, equipamentos e reuniões, assim como a zona de entrada para a área de alto risco – onde estão internados os doentes suspeitos e casos confirmados.
Esta outra área está delimitada com uma rede vermelha e sacos de areia, como se fossem trincheiras, para que não haja possibilidade de qualquer intromissão, mesmo que inadvertida.
Há uma separação de segurança de cerca de dois metros entre as duas zonas.
Com quem está lá dentro (cinco casos confirmados e dois suspeitos) só têm contacto os médicos e higienistas, sempre devidamente equipados com várias camadas de protecção para todo o corpo e com um percurso definido, de sentido único.
Tudo o que entra e pode estar sujeito ao vírus tem uma única saída, onde os materiais são destruídos ou desinfectados.
"Não temos medo, assim estamos todos protegidos", referem dois dos higienistas à Lusa enquanto se equipam.
Na zona de baixo risco, onde nos recebe, Jerôme Mouton garante que não há risco de ser infectado – e realça que, até hoje, neste surto, ninguém dos MSF foi afectado.
Em redor do centro, nas ruas da capital, a vida decorre normalmente – assim como no resto do país.
"Não há mal em fazer o dia-a-dia normalmente, as pessoas doentes não andam pela ruas trocar fluidos", realça Jerôme Mouton, para recordar que os grupos mais afectados "são quem cuida da saúde, familiares ou profissionais, assim como quem cuida dos corpos dos mortos".
Lusa/SOL