Mais de 50 milhões de eleitores turcos vão hoje às urnas para, pela primeira vez na história do país, escolherem o Presidente por voto directo. Uma mudança promovida pelo actual primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que é também o vencedor antecipado destas eleições, restando apenas a dúvida se conseguirá mais de 50% dos votos de forma a evitar uma segunda volta no dia 24.
A alteração, que também aumenta o limite de mandatos presidenciais de um para dois, foi feita em 2007. Ano em que a popularidade de Erdogan estava no auge e antevia uma vitória nas legislativas de 2009 que permitisse ao seu AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) uma maioria capaz de alterar a Constituição.
Apesar de nova vitória robusta (49,83%), o partido islâmico não alcançou os dois terços de deputados que necessitava para estabelecer um regime presidencial.
Agora, depois dos dois anos mais conturbados da sua governação – primeiro com protestos em torno da destruição de um parque de Istambul, mais recentemente devido a um escândalo de corrupção que atingiu vários dos seus ministros –, Erdogan faz da reforma tema eleitoral: «Acredito que a minha nação adoptará o sistema presidencial com esta eleição. Os eleitores dirão: ‘Se escolho o Presidente porque não poderei escolher um Presidente executivo?’».
Quem o acusa de se querer eternizar no poder – com esta mudança Erdogan contorna um limite de três mandatos no Governo e pode ficar na presidência até 2024 – teme ainda mais o sistema desejado. «O Presidente deve ser distante dos partidos políticos e não deve ditar os seus termos. Pode haver tempos de crise e será necessário um Presidente neutral para aliviar as tensões», defende Ekmeleddin Ihsanoglu, académico de 70 anos escolhido por vários partidos da oposição para fazer frente ao PM – a última sondagem dá 57% a Erdogan, 34% a Ihsanoglu e 9% ao curdo Selahattin Demirtas.
Animado por nova vitória nas regionais de Março, Erdogan acredita que o AKP pode reforçar o poder nas legislativas de 2015 ao ponto de conseguir a tão desejada alteração constitucional. Até lá (e depois, caso a tentativa volte a fracassar), prepara-se para adoptar uma nova forma de presidir.
«Posso não considerar o meu encontro semanal com o primeiro-ministro suficiente», avisa o homem que ainda chefia o Governo mas já fala como Presidente, recordando que os actuais poderes permitem ao ocupante do palácio de Cankaya presidir às reuniões do Conselho de Ministros. E, ao melhor estilo do russo Vladimir Putin, Erdogan nem disfarça que será sua a escolha do homem que o AKP colocará na chefia do Governo até às legislativas, apesar de a Constituição o obrigar a sair do partido para assumir a presidência: «Se os eleitores nos derem o cargo, faremos as nossas consultas e depois decidiremos dentro das opções que temos em mente».