Só não foi nomeada por Passos não ter conseguido de Bruxelas o compromisso de que lhe seria dada uma das pastas mais importantes da Comissão. Juncker não cedeu. E avançou Moedas como recurso alternativo.
Passos fez bem ao optar por resguardar a sua ministra das Finanças. Cuja saída o obrigaria a uma remodelação imediata e alargada do Governo. Além de que Maria Luís Albuquerque é um dos pilares deste Executivo e uma indiscutível mais-valia eleitoral do PSDpara as legislativas de 2015.
Mas Passos fez mal ao escolher alguém do PSD e do seu círculo pessoal para ocupar uma pasta irrelevante na equipa de Juncker quando podia dar esse lugar a uma figura do PS. Em primeiro lugar, seria o sinal de uma vontade real e efectiva – para além das vagas ou ocas declarações de intenções – de estabelecer pontes e alargar consensos com os socialistas. Em segundo lugar, porque nos últimos 28 anos os representantes do PSD na Comissão Europeia (Durão Barroso, Deus Pinheiro e Cardoso e Cunha) ocuparam funções durante 23 anos e o PS apenas 5 anos (com António Vitorino). Não ficaria mal a Passos atenuar um pouco esse desequilíbrio. E, já agora, o que ganha o PSD por ter Moedas em Bruxelas? Ou, de outra forma, perderia alguma coisa relevante por não ter?
O que fica mesmo mal são os exercícios de autopromoção que estas nomeações desencadeiam. O social-democrata Silva Peneda foi o primeiro, logo no início de Junho, a lançar o seu próprio nome: «Ser comissário europeu seria um desafio aliciante». Um mês depois, a eurodeputada socialista Maria João Rodrigues atirou-se publicamente ao cargo: «Não sou modesta. Estou particularmente preparada». Agora, depois de consumada a escolha de Moedas, Rodrigues veio reclamar: «O meu nome não foi referido a Juncker, embora ele o esperasse». É o chamado socialismo de presunção e água benta.
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