A sua morte, um derrame cerebral quando estava na sua casa nova-iorquina, marca também o adeus a uma das últimas deusas de uma era de ouro que atravessou os estúdios mais famosos do cinema.
Foi ela também que ganhou o coração de Bogart, viúva do galã com quem contracenou em clássicos como "Key Largo (Paixões em Fúria)" e "To Have and Have Not (Ter ou Não Ter)".
Bacall também fez nome em filmes como "How To Marry a Millionaire (Como se conquista um milionário") onde contracenou com Marilyn Monroe, "Designing Woman ("A mulher modelo")" com Gregory Peck e "Murder on the Orient Express ("Um crime no expresso do Oriente").
O seu olhar, altivo e provocativo carregado de glamour, elevou-a ao estatuto de estrela a que poucos outros actores conseguiram chegar.
Antes de brilhar como actriz, Bacall estudou dança durante treze anos. Teve aulas de interpretação na Academia Americana de Artes Dramáticas enquanto trabalhava como modelo.
Fez sua estreia nos palcos da Broadway em 1942, na peça "Johnny two by four". Entrou em mais de 40 filmes e, em 2010, ganhou um Oscar pelo conjunto da sua obra.
O seu olhar ficou tão famoso quanto o seu casamento com Bogart, em 1945. Conheceram-se nas filmagens de “Ter ou Não Ter” e ficaram juntos até à morte do actor em 1957 – tiveram três filhos. Bacall ainda se casaria com Jason Robards, em 1961, divorciando-se em 1969.
Nascida Betty Joan Perske, “uma jovem judia do Bronx” como ficou conhecida nos primeiros tempos de Hollywood, rapidamente ganhou o coração de todos graças a essa frase no filme que a imortalizaria, quando se virou para Bogart, com a voz arrastada e rouca que a caracterizava, e soltou antes de fechar a porta em “Ter ou não Ter”. “Sabes assobiar, não sabes, Steve? Basta juntares os lábios e soprar”.
Nunca Bogart seria o mesmo. Nem nós. Nem o cinema.
Aí, arrebatou-nos. Com o seu andar, os lábios amplos e um olhar embriagado. Fulminou Bogart, o maior durão do cinema – os dois formaram uma das histórias mais românticas numa indústria de efémeros amores.
Um amor trágico também, que lhe partiu o coração quando um cancro lhe levou o marido.
Precisou de quase 20 anos para sair desse buraco escuro chamado Bogart. Mas nunca recuperou totalmente, recatada, apareceu a espaços. Para trabalhar em comédia no Cactus Flower e em musicais como Woman of the Year e Applause, por estes ganhou dois prémios Tony.
Para sempre ligada a Bogey
A ligação com Bogart nunca foi fácil, Bacall sempre se mostrou impaciente com o assunto, especialmente nos últimos anos quando as pessoas insistiam, apesar de dizer que esses 12 anos foram os mais felizes da sua vida.
Queria ser julgada pelo que fazia e não pela vida que tinha ao lado da maior estrela de Hollywood. Resignou-se – sabia que iria estar para sempre ligada a Bogart. Muito para além dos anos que passaram juntos (1945-57).
“O meu obituário vai estar cheio de Bogart, tenho a certeza disso”, disse um dia à Vanity Fair, num perfil traçado pela revista em Março de 2011. “Nunca saberei se isso é verdade. Se for, é porque tem que ser”.
A origem do The Look
A sua voz profunda e o olhar sedutivo que lançava a Bogart no “Ter ou Não Ter” chamou a atenção. Numa das primeiras cenas que filmaram, perguntou se alguém tinha lume. Bogart atirou-lhe uma caixa de fósforos e ela atirou-lha de volta. Mais tarde contou o momento que mudaria uma vida.
“A minha mão estava a tremer, a minha cabeça tremia, o cigarro tremia e eu estava mortificada”, escreveu na biografia “By Myself”. “Quanto mais tentava parar de tremer, pior… Percebi que uma maneira de parar de tremer era baixar a cabeça, com o queixo em baixo quase encostado ao meu peito e os olhos em Bogart. Resultou e acabou por ser o início do The Look (o olhar)”.
A (sua) voz também tem a sua história. O realizador Howard Hawks queria que Bacall mantievsse a voz baixa mesmo nas cenas mais exaltadas e sugeriu-lhe que encontrasse um local sossegado e lesse em voz alta. Foi de carro até Mulholland Drive e começou a ler “The Robe,” mantendo a voz mais baixa e mais alta que o costume.
“Quem se senta num carro a ler livros em voz alta para os canyons?”, escreveu anos mais tarde. “Eu”.
"É com imenso pesar perante a magnitude da nossa perda, e no entanto com a sua vida espantosa, que confirmamos o falecimento de Lauren Bacall", diz a conta oficial do Twitter da fundação Bogart.
With deep sorrow, yet with great gratitude for her amazing life, we confirm the passing of Lauren Bacall. pic.twitter.com/B8ZJnZtKhN
— BogartEstate (@HumphreyBogart) August 12, 2014
SOL