"Nada. Completamente nada. Uma coisa que me admirou bastante", disse Pedro Pinto à agência Lusa, referindo-se à ausência de rastreio em território português.
Este português, que trabalha há um ano e três meses no sector da construção civil em Conacri, esteve recentemente de férias nos Açores, depois de ter feito as ligações aéreas Conacri/Marrocos/Lisboa/Ponta Delgada.
Segundo afirmou, passou por medidas de controlo do vírus do Ébola em território africano.
"Fizeram-me as perguntas normais, se eu tinha febre ou diarreia, e fizeram-me o controlo de temperatura", explicou.
Pedro Pinto assegura estar a viver na Guiné-Conacri "sem medo" do surto de Ébola.
"Há sempre uma instabilidade mas eu não tenho medo senão não estava aqui, ia-me embora. Eu tenho intenção de continuar, quero continuar e vou continuar, tenho um contrato de trabalho para cumprir e vou continuar, sem medo, sem problemas", assegurou.
Pedro Pinto procura viver da forma mais "normal possível" mas não esquece as medidas de segurança, que passam, sobretudo, pela higiene e alimentação.
"Desinfectar as mãos várias vezes ao dia, tomar as devidas precauções, não tocar em muita gente, não participar de um aglomerado de pessoas. Não andar a comer macaco, morcego, cobra, porque há muitas zonas em África em que comem esse tipo de animais e também não comer carnes cruas ou carnes mal passadas", disse este português natural de Amarante, mas que há 14 anos se fixou nos Açores.
Pedro Pinto espera regressar já no próximo mês à ilha de São Miguel para visitar a família.
Em cinco meses, a epidemia de ébola na África ocidental, a pior desde a descoberta da doença em 1976, causou 1.145 mortes, de acordo com o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 13 de Agosto: 380 na Guiné Conacri, 413 na Libéria, 348 na Serra Leoa e quatro na Nigéria.
O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, afirmou no domingo que o Governo tem "nota" de 66 portugueses "inscritos" na Nigéria e 22 ou 23 na Guiné-Conacri.
"Até há poucos dias não tínhamos um único [português] registado nem na Libéria, nem na Serra Leoa", acrescentou, notando que, entretanto, soube-se que havia cidadãos nacionais nestes dois países.
O secretário de Estado referiu que "uma grande parte dessas pessoas – se não todas – terão regressado".
"Em qualquer caso, as nossas embaixadas em Abuja [Nigéria] e em Dacar [Senegal] estão a acompanhar a situação, atentas e disponíveis para aquilo que se passa, e, sobretudo, o gabinete de emergência consular tem números permanentes, 24 horas por dia, que estão disponíveis para as pessoas poderem recorrer a eles no caso de haver uma situação de real emergência", acrescentou.
No início do mês, o Governo advertiu que os portugueses que se encontrem nos países afectados pelo vírus Ébola devem contactar o gabinete de emergência consular, em caso de "problema grave", e podem recorrer a embaixadas de países da União Europeia.
Por outro lado, a 08 de Agosto, Portugal criou um "dispositivo de coordenação" que está em alerta e "mobilizará e activará recursos que sejam adequados a cada situação" de infecção pelo vírus do ébola que venha a ser identificada.
Num comunicado publicado na sua página na Internet, a Direcção Geral de Saúde (DGS) revelou que a Portugal, enquanto Estado sem ocorrências de transmissão do vírus e não estando exposto "a riscos ou que façam fronteira com países afectados", foram dadas orientações que "já se encontram implementadas" e que "são objecto de revisão contínua".
Entre estas orientações está "o reforço da articulação internacional, nomeadamente com a OMS, com o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), em Estocolmo, e com outros Estados", segundo a mesma nota da DGS.
Apesar de não estarem interditadas, actualmente, viagens internacionais para áreas afectadas, "os cidadãos devem ponderar viajar apenas em situações essenciais, tendo em atenção o princípio da precaução".
A DGS garante que "Portugal tem em estado de prontidão mecanismos para detectar, investigar e gerir casos suspeitos de doença por vírus Ébola, incluindo capacidade laboratorial para confirmação da doença".
A autoridade de saúde refere que "estão previstas medidas para facilitar a evacuação e a repatriação dos cidadãos que possam ter estado expostos ao vírus".
Lusa/SOL