Cuidado com o ioga

Enquanto outras tendências vêm e vão, o ioga permanece. Há anos que está na moda, seja como desporto seja como estilo de vida. Das aulas no ginásio aos retiros, não há como ignorar aquilo que parece ser hoje bem mais do que um fenómeno passageiro. Mente sã em corpo são é o mote da modalidade…

Mas em tempos narcísicos de auto-retratos publicados nas redes sociais, o ioga começa a tornar-se imagem de marca de muitos, que parecem esquecer os seus princípios ligados à meditação, contemplação e, até, ao despojamento. Para eles, o ioga está quase a tornar-se um adereço fotográfico.

Hilaria Baldwin é um dos casos mais notórios. A mulher de Alec Baldwin tem uma flexibilidade invejável. E gosta de a mostrar. Todos os dias partilha na sua conta de Instagram uma fotografia com uma postura de ioga diferente. E muitas podem ser consideradas perigosas, se não para ela, pelo menos para os que as tentem copiar em casa. É que Hilaria aprecia particularmente aparecer em posições complicadas no cimo de escadas, na casa de banho, em cima de árvores, na linha de comboio… Tudo o que exija um domínio perfeito do equilíbrio e que faça o ioga parecer um desporto de alto risco.

Lea Michele, a actriz celebrizada na série Glee, também se rendeu a esta prática. E embora sejam muitas as vezes que partilha na sua conta de Instagram fotografias de poses relativamente fáceis, não é raro vê-la em posturas difíceis de alcançar para quem não tenha um certificado em ginástica acrobática.

“A relação entre as celebridades e o ioga aumenta cada vez mais”, notou Jennilyn Carson ao New York Post. Esta instrutora de ioga nova-iorquina considera que as referidas partilhas não fazem mais do que “gozar com o que é realmente o ioga”. Os valores da disciplina, assegura, assentam na humildade, privacidade e procura do eu.

“A discussão tem vindo a evoluir desde que o Instagram começou”, diz a instrutora. E acrescenta que existe um sentimento na comunidade do ioga “de que estão a prejudicar o ioga ao divulgar estas fotografias. É exibicionismo e contraria os princípios do ioga – olhem para mim e para as posturas fantásticas que consigo fazer”.

Fãs de partilhar as suas posturas de ioga, as modelos Gisele Bündchen e Miranda Kerr não são tão dadas a proezas acrobáticas como Lea Michele e Hilaria Baldwin. Mas nem por isso se livram de críticas nas redes sociais e até nos media.

Há muitos que lhes apontam o dedo, não só por exibicionismo (além de ostentarem grande flexibilidade e seus corpos esculturais, fazem-no frequentemente em cenários idílicos que a maior parte dos seus seguidores nunca poderá visitar) como por incentivarem que os seus fãs a tentarem imitar as suas posturas em casa – correndo estes o risco de contrair sérias lesões musculares.

É que se personalidades como Lady Gaga, Madonna, Naomi Campbell, Carles Pujol e Lea Michele contam com instrutores de ioga que os acompanham quase diariamente, muitos são os que tentam alcançar as tão complicadas posturas sozinhos, na ilusão de que será fácil consegui-lo. Afinal, nas fotografias partilhadas, a expressão das celebridades é sempre leve e sorridente. Não há suor nem lágrimas. É difícil adivinhar o esforço que está por trás. Na opinião da instrutora Jennilyn Carson, as redes sociais têm vindo a diluir a identidade desta prática ancestral. “É o ioga uma arte, cultura popular? É uma prática pessoal que não precisamos de explorar através das selfies”, conclui. 

rita.s.freire@sol.pt