O que o Homem do Neanderthal não provou

Em Cantanhede, terra de pedreiras, há história, mas para além dos testemunhos dos homens que a fizeram, existem muitos mais motivos para que a visitemos. Por agora, aquele que mais nos interessa é o vinho. E que vinhos…

De Cantanhede  sabe-se que o Homem de Neanderthal ocupou esta região, tendo deixado numerosos artefactos em sílex encontrados em estações arqueológicas de freguesias como Ançã. E conhece-se também a origem do seu nome, que chegou até nós a partir da raiz celta Cant, que significa pedra grande, e que nos deixa o testemunho de aqui terem existido muitas pedreiras.

Mas o que aqui me trouxe não foi tanto esta história ilustre, mas tão só (e não é pouco) os seus vinhos. E desta vez rumei à Adega Cooperativa fundada em 1954 por um conjunto de 100 agricultores e que hoje conta com 700 viticultores associados. Com uma área de vinha de 1000 hectares e uma produção média anual de sete milhões de quilos de uva, este ‘gigante’ tem algumas pequenas pérolas que merecem aqui destaque.

Antes, porém, uma chamada de atenção. A Adega de Cantanhede decidiu que os seus melhores vinhos e espumantes deveriam ter uma marca com o nome Marquês de Marialva, por forma a homenagear D. António Luís de Meneses, 1º Marquês de Marialva, que se distinguiu nas batalhas das Linhas de Elvas e Montes Claros durante a guerra da Restauração (1640-1668).

E partimos então para a prova do Marquês de Marialva Arinto Reserva 2013, a casta predilecta do enólogo Osvaldo Amado que foi quem lhe deu vida. Elegante, este branco apresenta-se muito gastronómico e a sua frescura e acidez assentam como uma luva nesta altura do ano. Seguiram-se os tintos, desde logo a nova colheita do Baga Reserva 2009 que após nove meses de estágio em barricas com tosta se mostrou encorpado, com final de boca muito longo e que promete ter uma longevidade de mais dez anos. 

Chegou-nos depois uma estreia absoluta: o Confirmado 1991, cujo nome se deve a uma curiosidade. A colheita de 1991 teve muitos protestos e a Adega resolveu retirar todas as garrafas do mercado e deixou-as esquecidas num canto das suas caves. Depois de todos estes anos passados (e foram 22), resolveram abri-las uma a uma, analisaram e escolheram as melhores (3000 garrafas), que agora chegam ao mercado com enorme qualidade. Acidez e taninos bem equilibrados, pujante na boca, eis uma nova estrela. Deixámos para o fim o Cuvée 2010, um espumante extra bruto muito agradável e que promete animar as tardes deste Verão.

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