É a chamada grande festa do Douro. Por estes dias começam-se a cortar as uvas na mais antiga região demarcada do mundo, depois de uma primavera/verão atípicos devido à chuva e frio que criaram condições para a ocorrência de doenças que se vão traduzir numa quebra de produção que poderá ir dos 10 aos 15%.
Na Quinta do Vallado, perto do Peso da Régua, já se colhem as uvas brancas. A esta porta têm batido muitas pessoas à procura de uma oportunidade de trabalho.
"Temos muitos pedidos de pessoas que querem trabalhar connosco não só para a vinha, mas também para a adega. Muitos pedidos são de pessoas que não têm nada a ver com a área porque infelizmente, com a crise, nota-se um maior desemprego", afirmou Francisco Ferreira, um dos responsáveis pela quinta.
Nesta primeira fase, o Vallado tem 25 pessoas a trabalhar na vindima. Mais tarde, quando começarem a cortar as uvas tintas, serão entre os 40 a 50, mas aí a propriedade recorre também à mão de obra fornecida pelos empreiteiros agrícolas.
Marta Guedes, 18 anos, acabou o curso profissional de restauração e bar, equivalente ao 12.º ano, e não conseguiu arranjar trabalho.
Decidiu, por isso, aproveitar a vindima para ganhar algum dinheiro.
"Pensei que conseguia arranjar emprego mais facilmente mas já vi que está difícil e que vai custar muito encontrar na minha área, porque dizem que está difícil e que não têm dinheiro para contratar mais empregados", salientou.
É a primeira vez que está a trabalhar na vindima e diz que está a gostar. "Não é um trabalho difícil e o grupo aqui é muito divertido", sublinhou.
Hugo Joel tem 26 anos e está também desempregado. Trabalhou a tempo inteiro nesta quinta mas depois decidiu emigrar, só que não gostou da experiência e ao regressar já não encontrou emprego.
Agora aproveita também a vindima para "ganhar algum dinheiro" porque disse que é "muito complicado" estar sem trabalhar.
Goreti Mateus gosta muito desta festa do Douro e contribui para a animar com os versos que vai inventando à medida que os dias passam.
São oito horas de trabalho por dia, sempre debruçada sobre as videiras, mas mesmo assim afirmou que com a diversão até esquece o cansaço.
É doméstica, tem dois filhos a estudar e durante o ano vai fazendo umas horas na vinha. É durante a vindima que aproveita para ganhar dinheiro para ajudar nas despesas lá de casa. "Cobre o buraco da despesa dos livros, de facto", sublinhou.
Maria Rosa, 59 anos, anima o grupo com músicas tradicionais do Douro. Concilia o trabalho em casa com a lavoura e nesta altura não perde a vindima do Vallado.
"Enquanto me chamarem é para aqui que venho e logo que eu possa e tenha saúde. O dinheiro que se ganha aqui ajuda, claro que sim", referiu.
Acrescentou ainda que "há cada vez mais pessoas a quererem vir trabalhar para aqui".
Maria Luísa também já andou nas vindimas em França. O trabalho diz que é exactamente a mesma coisa. "Tirámos na mesma o bago podre e o seco, é igual como é aqui", explicou.
A grande diferença é o dinheiro que se ganha.
"Lá em duas semanas e meia trouxe 1.150 euros e aqui ganho 25 euros por dia", salientou.
Francisco Ferreira perspectiva um ano de boa produção em termos de qualidade e aqui, na sua quinta, também em quantidade, pois apesar da quebra em relação ao ano passado prevê uma colheita idêntica à média dos últimos anos.
Lusa/SOL