ES Saúde abre época de saldos

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada na semana passada pelo grupo mexicano Ángeles sobre a Espírito Santo Saúde (ES Saúde) marca o arranque da venda de património que o Grupo Espírito Santo terá inevitavelmente de fazer nos próximos meses, com a entrada em gestão controlada no Luxemburgo.

A partir de Outubro, a alienação de activos vai intensificar-se. Está previsto para essa data um relatório do tribunal luxemburguês responsável pela gestão das holdings que pediram protecção de credores.

A OPA à ES Saúde foi a primeira venda porque a empresa estava cotada em bolsa. A juíza luxemburguesa terá, ainda assim, um papel determinante no processo: autorizar o Grupo Espírito Santo a alienar os 51% que controlava na empresa.
A generalidade dos analistas considera que o preço oferecido – 4,3 euros por acção – é baixo, pelo que poderá haver margem para ofertas concorrentes ou de revisão em alta daquele valor. O Conselho de Administração da empresa de saúde terá de pronunciar-se sobre se a oferta é considerada amigável ou hostil e se o preço é justo quando receber um prospecto detalhado da operação, nas próximas semanas. O grupo Ángeles tem 20 dias para fazer o registo da operação na Comissão do Mercados Valores Mobiliários (CMVM),

Esta entidade reguladora está a investigar se houve abuso de informação privilegiada na OPA mexicana, já que o grupo e dois administradores compraram acções antes de comunicarem a operação. “A CMVM, sempre que é publicado um anúncio preliminar de OPA, procede a uma análise das operações feitas envolvendo as acções da entidade visada no período que o antecedeu de forma a verificar se existiu eventual utilização de informação privilegiada”, confirmou ao SOL fonte oficial do regulador.

Mas, como “esta análise não interfere nos prazos do registo da oferta”, a operação continuará em curso, com o mercado a antecipar que surjam ofertas concorrentes. Os brasileiros Amil e os chineses da Fosun, que ganharam a privatização da Fidelidade, são dados como interessados na empresa. A José de Mello Saúde não fecha portas a uma aquisição – diz que vai analisar oportunidades de crescimento no país – mas uma operação desta natureza implica endividamento adicional e o grupo tem vindo a focar-se na redução do passivo.

Hotéis e Tranquilidade na calha

Depois da ES Saúde, os hotéis Tivoli e a seguradora Tranquilidade deverão ser as próximas vendas. Estavam em fase avançada de alienação pelo GES e já havia até propostas vinculativas. A decisão está dependente dos tribunais luxemburgueses.

Os negócios imobiliários podem demorar mais tempo, mas é já certo que haverá interessados, com investidores estrangeiros à cabeça. O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Luís Lima, garante ao SOL que no GES “há activos que claramente podem interessar a muitos investidores”.
A Herdade da Comporta é a jóia da coroa e Luís Lima tem “recebido muitos contactos com questões sobre este activo” e “seguramente haverá muitos interessados”, tendo em conta a dimensão, a localização e as possibilidades que oferece no turismo. “Continua a ser uma referência e uma propriedade de valor inestimável”, argumenta Luís Lima. No imobiliário, o responsável lembra que os bancos detêm actualmente activos de grande dimensão, qualidade e potencial. “Geram bastante interesse junto de potenciais investidores, não só nacionais, mas principalmente internacionais”.
 

Os negócios à venda

Imobiliário

A Espírito Santo Property, braço da Rioforte dedicado ao imobiliário, lucrou 2,9 milhões de euros em 2013, ano em que finalizou a reestruturação lançada em 2012 e introduziu uma nova marca. No último exercício  vendeu um edíficio de escritórios, lojas na Avenida da Liberdade, habitação no Chiado e o Palácio Estoril Residências. Foram também relançados comercialmente empreendimentos em Oeiras, Quinta do Peru e Douro. O grupo investiu ainda em reabilitação em Lisboa. No Brasil já vendeu 76% das Tivoli Eco-residences, na Praia do Forte (Bahia).

Valor indicativo: Os activos valem 95 milhões de euros, segundo o último relatório.

Comporta

Naquela que é a maior propriedade privada e uma das maiores áreas agrícolas do país juntam-se o cultivo de arroz e milho, a produção de vinho e a actividade turística e imobiliária. Na Herdade da Comporta, além dos loteamentos já existentes, estão previstos um hotel de luxo Aman, dois campos de golfe, aldeamentos turísticos e aparthotéis. O que estava já a ser construído parou entretanto, devido à crise no GES.

Valor indicativo: Activos avaliados em 174 milhões de euros. Teve lucro de 6 milhões em 2013.

Turismo

Os 14 hotéis Tivoli, que empregam mais de 1.700 pessoas, geraram vendas de 112 milhões de euros em 2013, apesar de haver prejuízos de 5 milhões. Já a Espírito Santo Viagens, dona das agências Top Atlântico, lidera o mercado nacional. Prejuízo em 2013: 10 milhões.

Valor indicativo: Hotéis valem 211 milhões; Viagens: 86 milhões.

Potenciais compradores: Estão na corrida o Grupo Pestana, um consórcio da espanhola Iberostar com a Pimco (EUA) e Helvetia (Suíça), um grupo tailandês, a Cerebus, e um outro grupo português não identificado. Já os espanhóis do Barceló estarão 'de olho' na ES Viagens.

Tranquilidade

A seguradora do GES estará em fase adiantada de venda. Quem ficar com a Tranquilidade assume também a T Vida, Logo e Esumédica e posições na Europ Assistance, AdvanceCare e nas seguradoras em Angola e Moçambique.

Valor indicativo: 515 milhões

Potenciais compradores: O fundo Apollo (EUA) – que também quis a Fidelidade – será o melhor colocado. Outros fundos de private equity estiveram interessados.enação de activos vai intensificar-se. Está previsto para essa data um relatório do tribunal luxemburguês responsável pela gestão das holdings que pediram protecção de credores.

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