Direita vota no PS

Continuando na conversa ontem aqui referida com o meu amigo Calisto Elói, durante o nosso almoço no Grémio Literário, recordo que voltámos a escorregar para a política, por iniciativa dele.

Direita vota no PS

“Vou votar nas primárias do PS”.

O queixo caiu-me de surpresa. “Mas tu, no PS?! Como é isso possível?! Toda a gente sabe que és radicalmente de Direita! E deixam-te?!”

“Deixaram-me. Já estou até inscrito. Pelos vistos, nem toda a gente sabe. Aqueles tipos que aceitam as inscrições, pareceram-me até bastante ignorantes. O meu nome completo – Calisto Elói de Silos e Benavides de Barbuda – não lhes disse nada. Nem sequer a minha morada da Agra de Freimas. Não têm ideia. Acolheram-me radiantes, como a qualquer outro português de boa vontade”.

“Mas assumiste o compromisso ético de simpatia pelo PS?!”, surpreendi-me outra vez.

“Noutros tempos, isso ter-me-ia parecido imoral, e não o faria; mas hoje já perdi essas ingenuidades, e acho que na politica, pelo menos na politica, podemos dizer o que quisermos, mesmo que pensemos ou tencionemos fazer o oposto. E nisso, reconheçamos, é difícil superar o nosso bom Passos”.

“Estou mesmo a ver que vais votar no Seguro, não é?”

“Sim, vou votar no Seguro, mas não é pelas razões que tu pensas. Na verdade, ao contrário da maioria das pessoas, nem sequer acho que o Costa esteja à esquerda dele. Tirando diferenças de estilos, parecem-me iguais – e, por aí, que venha o Diabo e escolha. O problema é que é nestas eleições que vamos realmente escolher o nosso próximo primeiro-ministro, e eu não quero ficar fora dessa escolha. Além disso, simplesmente, prefiro o Seguro. Não andou lá com o Sócrates. Mas a nossa malta andou a dizer tão mal dele por todo o lado, quando isso se compreendia, porque parecia ser ele o opositor socialista do Passos, que agora temo o voto da nossa gente toda no Costa. Vou lá só para contrabalançar. No fundo, sendo eu de Direita, acho a nossa Direita ainda mais perigosa do que tu. Temo que não pensem um palmo à frente do nariz”.

“Portanto, vocês é que vão escolher o próximo primeiro-ministro, mesmo sendo ele do PS”.

“À parte a minúscula diversidade de escolha, espero bem que sim, que sejamos nós – benditas primárias socialistas. Só espero que os nossos partidos não entrem nessas modernices”.