Em revisão estão a queda de Mossadegh em Teerão, a queda e assassínio de Lumumba em Leopoldville, a guerra indiano-paquistanesa e a secessão do Bangladesh, a morte de Salvador Allende e o golpe militar de Pinochet no Chile.
A ideia é revisitar a política norte-americana e a acção encoberta da Casa Branca e da CIA nestas crises e há algumas surpresas.
Em relação ao Irão, Ray Takeyh, do Council on Foreign Relations, rebate a tese clássica do papel conspirativo do operacional da CIA e de Kermit Roosevelt, que teria chegado a Teerão com malas de dólares e pago as manifestações populares contra Mossadegh, o homem a abater pelos anglo-saxónicos, depois da nacionalização da Anglo-Iranian Oil Company. Para Takeyh, Mossadegh foi longe demais no autoritarismo e o movimento que o liquidou foi nacional: uma aliança dos clérigos, do povo e dos militares, leais ao Xá e hostis à ‘modernização autocrática’ do primeiro-ministro.
Quanto ao Congo, dá-se o contrário. Segundo Stephen R. Weissman, antigo membro do sub-comité África da Câmara dos Representantes, o então chefe da delegação de Kinshasa, Lawrence Devlin, foi decisivo na detenção de Lumumba. E foi Devlin, com os belgas e os katangueses, quem liquidou Lumumba. Depois, pôs Mobutu no poder contra Tschombé, o favorito dos europeus, que acabou preso e morto numa prisão argelina.
No Bangladesh, segundo Harold H. Saunders, ex-NSC, Nixon e Kissinger apoiaram o presidente paquistanês, general Yahya Khan, contra os secessionistas bengalis, o que reverteu no massacre dos bengalis. Fizeram-no por razões de realpolitik, já que, no quadro da Guerra Fria, a Índia era neutralista e pró-soviética. As tropas de Deli invadiram e ganharam a guerra relâmpago e o Bangladesh ficou independente.
Quanto ao Chile, Jack Devine, operacional da CIA em Santiago em 1973, sublinha o papel da agência no apoio à oposição a Allende mas retira-lhe qualquer influência na preparação e execução do movimento militar de Pinochet, sublinhando a natureza nacional e militar do golpe.
Está hoje na moda condenar as intervenções ocidentais na Guerra Fria. É também de bom tom dizer que pioraram em vez de terem melhorado as coisas, atribuindo a cold-warriors como Joe McCarthy, John Foster Dulles, Richard Nixon ou até Henry Kissinger, a fama de radicais reaccionários com pesadas responsabilidades na criação da ‘ameaça soviética’.
Ora essa ameaça e os seus agentes – os partidos comunistas – existiram, dominaram e ameaçaram grande parte do globo no século XX. E os movimentos de reversão foram necessários e decisivos, mau grado os excessos a que possam ter dado ocasião.