A regeneração da morte

“Se há coisa que regenera definitivamente o nome das pessoas é a morte”, disse-me Calisto Eloi no almoço do Grémio que tem sido aqui referido nos últimos dias. “Vê o que aconteceu com João Justino, afastado pelos tribunais da presidência da Câmara de Sintra, e embrenhado em sucessivos processos por uma casa megalómana clandestina que…

“Já os romanos diziam que o Imperador Caracala merece todas as homenagens, desde que tenhamos a certeza de que está mesmo morto”, recordei, absorto.

“Essa certeza é hoje dada pela certidão de óbito, cada vez mais cientificamente incontestada”, ponderou Calisto, sempre confiante.

“Mas não chega para ganhar eleições, como te lembrarás pelo caso Sá Carneiro / Soares Carneiro”.

“Talvez não”, reconheceu ele quase contrariado, animando-se contudo imediatamente: “Mas estou convencido de que se morresse hoje, Ricardo Salgado passava rapidamente de vilão a grande empresário e amigo da cultura. E talvez Vítor Bento, na boleia, até virasse grande banqueiro”.